A impotência do rei

Conforme uma fonte insuspeita do Palácio Real de Madrid – não seria o mordomo, por supuesto -, foi comovedora a conversa entre o rei Juan Carlos e o príncipe Felipe de Bourbon, quando pai e filho chegaram a um acordo para não perder o trono.

 No parecer da opinião pública, a abdicação pode reabilitar a monarquia espanhola, abalada por escândalos em uma época de dificuldades econômicas e crescente descontentamento do povo com os políticos. Juan Carlos deve ter se rendido ao saudoso Príncipe de Lampedusa, pois alguma coisa será preciso mudar para tudo continuar como está. No caso da família Bourbon, é a cara ou a coroa. 

Na intimidade, os motivos foram bem mais prosaicos. Chamado com urgência ao Palácio de Zarzuela – a residência preferida da família real –, o príncipe de Astúrias não podia imaginar que os acontecimentos se desdobrariam com tanta rapidez. Sabia que o pai teria que entregar os anéis para não perder os dedos, mas não tão cedo assim. Ainda mais às vésperas de uma Copa do Mundo, momento inoportuno para dividir o spot-light com as majestades do futebol.

“Filho – reconheceu Juan Carlos Alfonso Víctor Maria de Bourbon y Bourbon – me sinto impotente…”.

Felipe de Bourbon levou a mão à barba que lhe empresta um certo verniz intelectual e, antes de bebericar do brandy que o cansado rei lhe havia oferecido, interrompeu-o: “Mas, papai, a Espanha está se erguendo! Depois de ganhar a Copa do Mundo, agora somos campeões da Europa e, além das nossas imbatíveis azeitonas, o reino é o maior produtor de vinhos do mundo. Batemos a Itália, batemos a França e só nos falta, no lugar do champagne, botar o nosso cava no podium da Fórmula 1”.

Juan Carlos, que recém tinha voltado de Portugal com a delegação do Real Madrid, arguiu: “Mesmo assim, apesar dos triunfos de Rafael Nadal no tênis e da Penélope Cruz no cinema, me sinto impotente…”.

O príncipe pigarreou e foi em frente: “Papai, estamos passando por uma crise que, bem ou mal, está sendo administrada. Apesar de contarmos com 60% dos nossos jovens desempregados, nem tudo está perdido. O que nos salva de uma convulsão social é o nosso eficiente sistema de saúde, nossa generosa educação e, bem ao contrário dos vizinhos portugueses, a aposentadoria é intocável e a velha casa da família sempre é um porto seguro”.

“Não tenho como tapar o sol da Andaluzia com o véu da rainha Sofia. De pai para filho, confesso que gostaria de lhe passar o cetro e a coroa porque não tenho condições de acompanhar a seleção espanhola ao Brasil”. “Por que, papai? Hugo Chaves é morto e não será preciso mandar o Lula se calar!”.

O rei deu o derradeiro trago no brandy e desabafou: “Os políticos já não me incomodam. O que me doem são os ossos. Nessa idade, me sinto impotente para enfrentar aquele frio de Curitiba! Que mandem outro!”.