A foto, o fato e a versão dos fatos

A fotografia de uma conhecida personalidade numa reunião social, erguendo um copo de bebida, é a receita para destruir reputações. No Paraná temos uma história exemplar, tendo como personagem o ex-governador e ex-ministro da Agricultura Bento Munhoz da Rocha Netto. Candidato à reeleição, ele foi fotografado numa reunião social, de smoking e com um copo na mão. Seria uma foto casual, como tantas nas colunas sociais. Mas esta foto de Bento Munhoz da Rocha não foi casual, não saiu no The New York Times, nem nas colunas sociais. Saiu na primeira página da Tribuna do Paraná, em 1965, como se fosse um registro político casual.

Ao contrário de Lula, cujos hábitos etílicos foram parar nas páginas do NYT, a casual foto de Bento Munhoz da Rocha virou panfleto e ganhou os quatro cantos do Paraná, pelas mãos de seus adversários políticos. Graças a uma casual foto com um copo na mão, Bento ganhou um retrato distorcido. Na foto transparecia a imagem de intelectual que de fato Bento era: com os olhos intumescidos e levemente vermelhos, próprios de quem atravessava madrugadas lendo e escrevendo. O copo na mão faria perfeitamente parte do figurino, não fosse o retrato retocado pelos adversários. Como se não bastasse tanto charme, inteligência e biografia, passou a ser um consumado boêmio. Bento não perdeu a elegância, mas perdeu a eleição.

Na eleição presidencial de 1945, assim como agora, dois candidatos dividiam a cena: o general Eurico Gaspar Dutra e o brigadeiro Eduardo Gomes. Falando no Teatro Municipal para uma seleta plateia de encasacados, Eduardo Gomes disse que não precisa contar com os votos “desta malta de desocupados que andam por aí”, referindo-se aos getulistas de todos as matizes. No dia seguinte, os adversários foram ao dicionário e constataram que o termo “malta” era sinônimo de “reunião de gente de baixa condição. Súcia. Caterva. Reunião de trabalhadores, que se transportam de um para outro lugar à procura de trabalhos agrícolas”. Na versão dos getulistas, o brigadeiro teria dito não precisar do voto de “marmiteiros”. Ou seja, dos operários e trabalhadores. 

– Mar-mi-tei-ros? Mas o que é isso? – estranhou o Brigadeiro, bonito e solteiro.

Ao ser informado do significado da palavra, ao ficar ciente de que a notícia estava se espalhando como uma praga entre os trabalhadores do Brasil, o mais udenista dos udenistas desdenhou:

– Quem pode crer em semelhante tolice?

– Brigadeiro, o senhor tem que fazer um novo discurso desmentindo essa história – aconselhou Carlos Lacerda.

– O povo não vai acreditar nisso! – minimizou um assessor.

O resto da história as brigadas petistas e os marqueteiros de Dilma Rousseff sabem perfeitamente como terminou. Tanto sabem que agora o Sul declarou guerra ao Nordeste, e vice-versa!