A força da inércia

Tanto o carro de boi municipal quanto a carroça estadual ou a carruagem federal, no Brasil tudo anda devagar, quase parando. Com tanto marasmo, se a Lei de Newton fosse promulgada no Brasil, teríamos meia dúzia de partidos políticos disputando o Ministério da Inércia.

Sobre as causas de nossa “força inercial”, ninguém ainda se deu ao trabalho de pesquisar esse fenômeno físico. Por trabalhoso, não seria na Bahia que as raízes letárgicas seriam encontradas. Talvez na terra do Dorival Caymmi se encontre a âncora da Nau da Apatia que, da Linha do Equador abaixo, desembarcou a prostração.  

Seria uma injustiça dizer que a indolência do poder público brasileiro começou na Bahia e tomou conta do Brasil, desde quando Pedro Álvares Cabral mandou abrir uma picada até o Monte Pascoal e a construção ficou pela metade. Fosse assim, como explicar a quantidade de obras públicas paralisadas no sul do Brasil, região onde “a mítica do imigrante é o trabalho” – como pensava Paulo Leminski.

Desde a chegada dos primeiros observadores estrangeiros, saltava aos olhos a quantidade de obras inacabadas. No dia 11 de setembro de 1858, quando o médico alemão Robert Avé-Lallemant desceu a Serra do Mar, com a Estrada da Graciosa nos primeiros passos, o bicho-preguiça era a espécie que mais se via na beira do caminho, conforme o seu relato de viagem pelo Paraná:

“Nada mais aborrece do que ver obras, sobretudo vultosas, começadas e inacabadas, fato muito frequente no Brasil e que procede da Santa Engrácia de Portugal. Ao entrar em Antonina chega-se a um bonito campo verde, no qual se eleva considerável número de obras iniciadas: uma igreja, muros de casas, pilares etc. Em torno das paredes destinadas às ruínas desde a nascença pastam reses em profunda paz. (…) Belas, em parte, as casas de Antonina que estão terminadas, algumas, aliás, vistosas e magníficas, especialmente na Rua Direita. Muitas, porém, inacabadas e me causam o aborrecimento a que acima me referi”.

Da chegada do alemão ao Paraná, à chegada de uma espaçonave ao planeta Plutão, quase tudo continua no mesmo. O que muito se vê na beira do caminho são obras começadas e inacabadas. De 1500 para cá, a única diferença é que agora estamos vendo os empreiteiros na cadeia.