A feijoada da doutora

Ela é farmacêutica bioquímica formada pela UFPR, com doutorado na USP e pós-doutorado em Londres. Professora universitária, viaja por estes brasis ensinando e demonstrando ciência. Mas também adora ioga, natação, hidroginástica, um bom vinho, uma degustação de alta gastronomia. Essa é Marileia Scartezini, da turma de Pato Branco. Cientista sim, mas que não dispensa “prazeres viajores”, aqui ou pelo mundo.

-Alguns anos e muitas pesquisas genéticas e bioquímicas depois, você sentiu o gostinho da fama por ter sido citada na revista “Isto É” em setembro e na sua própria terra, Pato Branco. Qual foi a sensação de ser “a moça da capa do jornal” por seu trabalho científico?

Marileia: A sensação foi de reconhecimento por 34 anos de estudos com o “colesterol”, iniciados em 1978, na USP em São Paulo, onde fomos os primeiros a montar a dosagem do HDL-colesterol, o bom colesterol, para que fizesse parte na rotina dos laboratórios brasileiros. O êxtase veio com o meu artigo científico de Londres sobre alterações no gene da proteína PCSK9, que controla o colesterol no sangue, e hoje, uma droga inibidora da PCSK9, a “injeção contra o colesterol”, está sendo testada por 6 laboratórios internacionais e chegará nos balcões das farmácias em um futuro próximo. 

-Em Londres, você integrou uma equipe dedicada a pesquisar a Hipercolesterolemia familiar. O que é isso, de um jeito fácil de entender?

Marileia: A Hipercolesterolemia familiar (HF) é o estudo da herança genética do nosso colesterol no sangue e explica porque algumas pessoas têm o colesterol alto mesmo comendo pouco e fazendo exercício físico. Mas vale a pena lembrar que só 5% do colesterol elevado que encontramos na população é devido à genética, ficando a maior parte para as outras causas como comer demais e não fazer exercício físico.

-Em que a pesquisa ajuda quem tem colesterol fora de jeito?

Marileia: Para quem tem o colesterol “fora de jeito” A pesquisa ajuda a identificar se a pessoa é portadora de defeito genético, leve ou severo, permitindo que os seus familiares sejam beneficiados iniciando o controle do colesterol bem cedo, para evitar as doenças como o infarto agudo do miocárdio ou um AVC.  

-Em casa de ferreiro, espeto de pau. Como anda o seu colesterol?

Marileia: Como sempre, esse ditado popular, não falha. Eu preciso controlar o colesterol com muita dieta e exercício porque tenho, e já sei qual, uma alteração genética “leve”, ou um polimorfismo genético, responsável pelos níveis um pouco acima do limite superior permitido. 

-Com ou sem colesterol, qual o parque da cidade de sua estimação?

Marileia: Bem, o parque que aprecio é aquele “com sol”, o que é um pouco difícil devido ao clima de Curitiba. Por isso minha atividade física fica por conta da academia, mais especificamente na piscina, onde com chuva, sol ou frio consigo praticar regularmente. 

-Há quem diga que o torresminho é o colesterol “in natura”. Mesmo assim, qual seria a melhor feijoada de Curitiba?

Resposta: Na verdade, no torresminho encontramos “ácidos graxos” que depois vão dar origem ao colesterol no fígado. Portanto, se você comer “torresmo” e fizer exercício físico no dia seguinte para gastar essa gordura, não formará o colesterol. Mas, lembrando, não adianta esperar alguns dias….daí o colesterol já estará no fígado. A melhor feijoada em Curitiba? É aquela em que a gente pode ir com tempo, sem compromisso ou estresse, e tem a melhor companhia para conversar, relaxar e desfrutar de um dos melhores pratos de nossa culinária…mas em dose moderada!