A encantada do Nhundiaquara

No pé da Serra do Mar, o Rio Nhundiaquara não sem nenhum motivo acolhe tantas oferendas do candomblé e da umbanda. Nas águas do Nhundiaquara, Iemanjá e Iansã confraternizam com o preto-velho e a pomba-gira.

Contam nas noites de inverno no Porto de Cima que, no tempo em que as mulheres dos engenhos de açúcar costumavam lavar roupa entre as pedras do Nhundiaquara, uma delas ficou no batente até o crepúsculo. Conforme iam terminando o serviço, as outras mulheres acabaram indo embora sem que ela percebesse.

Concentrada no trabalho, a lavadeira de Porto de Cima cantarolava algumas melodias acompanhada pelo som da água a correr entre as pedras, o que não a deixou ouvir, a princípio, os murmúrios de uma voz de mulher a se lastimar. Numa parada para descansar, a lavadeira percebeu que, um pouco mais acima, uma mulher gemia e chorava baixinho, pedindo socorro.

Com água no joelho, aproximou-se e viu sentada numa pedra uma moça muito formosa, parecida com um anjo, com um vestido tão branco, mas tão branco, que de tão alvo parecia ter sido lavado pelas mãos de Iemanjá.  
– Por que tanto choras, qual o motivo de tanta infelicidade? -Perguntou a lavadeira.

– Fui encantada por uma fada má! – respondeu a infeliz.

Depois de muitas lamúrias, a formosa moça contou que só podia aparecer no Rio Nhundiaquara de sete em sete anos, ao pôr do sol, na esperança de encontrar um bom moço que a quisesse namorar.

Ao fazer menção de ir embora rio acima, a lavadeira perguntou seu nome:

– Não posso dizer. Só depois de quebrado o encanto posso dizer quem sou e de onde vim.

Dito isso, a moça desapareceu nas sombras, entre os ruídos da água corrente da Serra do Mar.

No dia seguinte, quando a lavadeira contou o sucedido em Porto de Cima, muitos zombaram, outros falaram em assombração. O padre da igreja de São Sebastião não só acreditou, como também passou a contar a história em todas as missas dedicadas ao Santo Antônio casamenteiro.

As palavras do vigário correram de Morretes a Paranaguá, passando por Antonina. Sete anos depois, vários rapazes foram esperar o pôr do sol às margens do Nhundiaquara, na esperança de conhecer a encantada do vestido branco.

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No Dia dos Namorados, se uma garota encontrar um rapaz pescando lambari no Nhundiaquara ao anoitecer, ela que não seja ingênua: a intenção dele pode ser outra.