A economia no fio da navalha

Como todo mundo sabe, Marina Silva fala com Deus. Quando ainda era ministra do Meio Ambiente, ela procurou o presidente Lula para pedir demissão:

– Lula, ontem à noite falei com Deus e ele me aconselhou a pedir demissão do teu governo!

– Me dá um tempinho para mim pensar e depois volta aqui.

Uma semana depois, Marina pediu nova audiência:

– Então, presidente! Posso sair?

– Marina, ontem à noite eu também falei com Deus. E ele me disse que mudou de ideia! Agora acha que você precisa continuar ao meu lado. 

Dito e feito, naquele momento Marina não pediu demissão.

É louvável essa intimidade da Marina com Deus. Quem sabe é o caminho para botar nos eixos a nossa economia. Com a corda no pescoço e o ministro Mantega no fio da navalha, que depois da eleição o Todo Poderoso proteja o nosso minguado dinheiro e que até o Vaticano venha em socorro do próximo presidente. Com Dilma, com Aécio ou até com a evangélica Marina Silva, junto com a ajuda divina o Brasil precisa ouvir as palavras do papa e os ensinamentos econômicos de seus cardeais.

Na quebra da Bolsa, em 29 de outubro de 1929, quando milhares de bancos, indústrias e empresas foram à falência, o Sumo Pontífice do Vaticano era Pio XI, nascido Ambrogio Damiano Achille Ratti, em Milão. Quem leu o livro “O Fio da navalha”, de Somerset Maughan, recorda-se: este Pio XI e seus tesoureiros deviam saber muito mais do que se passava na Bolsa de Nova York do que Franklin Delano Roosevelt.

Para ativar a memória, dos personagens de Somerset Maughan o mais fascinante é o “bon vivant” Elliott Templeton: “ Ele comprava os acessórios de toalete em Charvet, mas seus ternos, chapéus e sapatos eram de Londres. Tinha em Paris um apartamento na Rive Gauche, na elegante Rue St. Guillaume”.

Negociante de artes, Elliot Templeton era riquíssimo. Muito refinado e católico, com amigos cardeais no Vaticano. Semanas antes da quebra da Bolsa, Templeton telefonou para Chicago e, para espanto de todos, ordenou aos seus operadores de que vendessem todas as suas ações na Bolsa e transformassem os dólares imediatamente em ouro.

A Bolsa quebrou, o sogro da sobrinha se suicidou, os amigos americanos em Paris retornaram sem um tostão no bolso para Nova York e Eliott Templeton, que já tinha um belo apartamento na Rive Gauche, foi morar numa mansão da Riviera Francesa, 100 vezes mais milionário.

Templeton era incrivelmente esnobe. Quando Somerset Maughan lhe perguntou, entre ostras e champagne, como havia conseguido resgatar sua fortuna antes do furacão, o esnobe sem a menor vergonha contou que seus poderosos amigos do Vaticano eram iluminados por Deus. Os tesoureiros de Pio XI o aconselharam a vender as ações em Chicago com urgência e comprar ouro, muito ouro.

Temente a Deus – assim como Marina Silva – Elliott Templeton obedeceu.