?Eu jamais vi um estado coberto de maior terror do que o Paraná. Os meus alunos, a maioria deles, têm depressão. E depressão é fascismo. Portanto, há repressão nesse estado, em todas as partes.?

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Íttala Nandi, atriz e coordenadora da Escola Sul-Americana de Cinema e Televisão

Alguém precisa presentear a atriz Íttala Nandi com o livro Um brasil diferente, do mestre Wilson Martins. Ou então, em causa própria, sugiro o livro que estarei lançando no próximo dia 26 de setembro. A banda Polaca -Humor do imigrante no Brasil Meridional. Com 500 páginas e sem figurinhas, a obra de Wilson Martins talvez seja pesada demais para a leveza intelectual de Íttala, agora com dupla letra. A atriz vai preferir o meu livro, com leves 148 páginas e muitas ilustrações de Márcia Széliga.

Da esquerda funcionária e com admiradores no poder, Íttala Nandi concedeu entrevista ao repórter Caio Castro Lima, da Gazeta do Povo, onde comprovou a velha teoria de que um idiota sempre encontra um idiota ainda maior para admirá-lo.

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Digamos que Íttala Nandi não é uma idiota, ela apenas não consegue se expressar a contento sem antes decorar o texto. O que a aproxima de um perfeito idiota é a rasura das idéias. Como se o caldo da cultura paranaense fosse servido num prato tão raso quanto o palavrório da bela senhora: ?O Paraná é colonizado pelos segmentos sociais do mundo mais repressores, que são os poloneses, alemães, italianos e cracovianos?.

Cracovianos? No Paraná, Íttala não foi apresentada ainda aos ucranianos, japoneses, árabes,  russos, mineiros, paulistas, cariocas, nordestinos, catarinas e gaúchos, como a própria.

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Assim é o Paraná: ?Inimigo de gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem alardes, impor o predomínio de uma idéia nacional a tantas culturas antagônicas? (Wilson Martins)

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Cada um com sua história, vou contar uma história que nada tem a ver com essa história, porque é uma história que virou lenda nas redações dos jornais de Curitiba.

No auge da carreira, uma famosa atriz veio estrear uma peça de teatro em Curitiba. Hospedada no Hotel Guaíra, na Praça Rui Barbosa, a diva concedeu entrevista a um iniciante repórter do jornal O Estado do Paraná, hoje um dos diretores da Editora Abril. Era um menino imberbe, alto, franzino, pele muito branca, no viço de seus 17 anos. Com a entrevista marcada para o saguão do hotel, a diva foi pontual e o repórter respirou fundo quando viu se aproximar aquelas pernas que sustentavam um paraíso. A diva mediu, em todos os sentidos, o menino de alto a baixo. Mediu outra vez, deu uma volta em torno – talvez para mensurar os glúteos firmes do pitéu – e mudou de planos.

– Vamos fazer a entrevista no meu apartamento!

E subiram, a diva e o menino.

Duas horas depois, o desmilingüido repórter desceu, com a pele branca mais que rosada. Atravessou o saguão do hotel, cruzou a Praça Rui Barbosa, caminhou a Rua André de Barros até virar à direita na Barão do Rio Branco e adrentrar à velha redação de O Estado do Paraná com um misterioso sorriso na face. Não cumprimentou ninguém, foi direto para a cantina recuperar energias.

Depois daquele copo de leite, o menino nunca mais foi o mesmo. Antes tão depressivo, coberto do maior terror, chegou a editor da revista Playboy. Fez por merecer.