A deusa dos onanistas

Em 2010, quando os EUA prenderam uma jovem russa de cabelos ruivos flamejantes e olhos verdes, muitos senhores para lá da meia idade foram acometidos de uma súbita recuperação da memória erótica. Seria ela bisneta de Giselle Montfort, a espiã nua que abalou Paris? Treze anos depois, enquanto a embaixada brasileira na Rússia analisava o pedido de asilo de Edward Snowden, o ex-funcionário da CIA que delatou um sistema secreto de monitoramento, os mesmos saudosistas voltaram a se perguntar: será que Brigitte Montfort, a filha de Giselle Montfort, vem com Snowden ao Brasil?

Giselle Montfort era uma estonteante espiã que tinha na cama a mais poderosa das armas para aniquilar oficiais nazistas tarados e com algum tipo de perversão sexual. Saudades de Giselle Montfort, a espiã nua que abalou Paris. Sua técnica de espionagem era muito simples: champanhe e caminha! Caminha é modo de dizer, porque na alcova de Giselle cabiam Himmler, Goering e até o próprio Hitler.

A espiã nua que abalou Paris era personagem real nas mãos dos adolescentes, mas pura farsa do jornalista David Nasser. Uma sensual farsa que nasceu quando Assis Chateaubriand (Diários Associados) convocou o repórter David Nasser e o fotógrafo Jean Manzon para tirar o jornal Diário da Noite do brejo. Então uma das estrelas da revista O Cruzeiro, David Nasser (para muitos ele próprio uma farsa) começou a escrever as aventuras de Giselle para o jornal carioca em 1948 e o folhetim foi um sucesso absoluto. O folhetim não só tirou o jornal do brejo, como também fez milhares de leitores acreditarem que Giselle Montfort ainda vivesse em Paris, graças ao álbum de fotografias de Jean Manzon.

Em se tratando de nazistas, o sucesso foi tão monstruoso que em 1952, no final da série no jornal, Giselle virou livro. Milhares de livros de bolso, sempre com a capa de José Luiz Benicio da Fonseca, famoso também pelos cartazes de filmes nacionais.

Antes do último capítulo do folhetim no Diário da Noite, outra história se passou na sala de Assis Chateaubriand, que não gostava de pagar seus funcionários. Com imaginação também fértil para receber o que lhe era de direito, Nasser escreveu o capítulo final da série para ver a cor do dinheiro. Com a espiã esplendidamente nua diante do pelotão nazista, ele entra na sala do patrão e comunica que Giselle morreria fuzilada e assim o folhetim acabaria no dia seguinte. 

Chateaubriand pagou os atrasados, David Nasser mandou Giselle dormir com o pelotão de fuzilamento e alguns anos depois surgiu a filha de Giselle, a também espiã Brigitte Montfort. Espiã a serviço da CIA nas páginas da série ZZ7, Brigitte era filha do Führer, descendente de Onã, deusa dos onanistas.