A cidade e o tempo

Atendendo aos pedidos de uma legião de andarilhos que pretendem adotar a cidade como albergue de primeiro mundo, fomos instados a responder algumas perguntas sobre como sobreviver ao clima da capital.

O clima de Curitiba mata?

– Não mata. É de matar. Especialmente os incautos que saem de casa com o figurino baiano e têm a ilusão de voltar com um modelito carioca. Quando chove, quem mata não é o frio que ataca os ossos. É o trânsito que ataca os pedestres, vítimas da “pneumania”.

Qual a grande diferença do clima curitibano?

De maneira geral é semelhante a qualquer outra cidade do Sul. Difere conforme o espírito de cada um: certas pessoas nunca vão ter clima na cidade. Nesse caso, aconselha-se ficar em casa sozinho e bem acompanhado de conhaque.

O clima curitibano leva ao uso contínuo do álcool?

– A nossa cultura é de origem eslava (vodka), alemã (cerveja), italiana (vinho) e japonesa (saquê), afora a proximidade com Morretes (cachaça) e outras influências etílicas. Com toda essa herança étnica, o curitibano é mais adicto ao bar do que ao lar porque, paradoxalmente, nossas casas não são providas de lareira (são raras) e os arquitetos constroem habitações para nordestinos.

No calendário, como é o clima em Curitiba?

Janeiro: calor e chuva para cacete. Fevereiro: calor do peru e chuva para cacete. Março: calor e chuva para ninguém botar defeito. Abril: frio e chuva para cacete. Maio: frio e chuva do dilúvio. Junho: frio para caramba e clima seco de Brasília. Julho: frio de lascar e seco para cacete. Agosto: clima louco para cacete e vento do peru. Setembro: frio de arrebentar e chuva de ensopar. Outubro: frio dos diabos e chuva do demônio. Novembro: esfria de doer os ossos e chove canivete. Dezembro: frio e chuva para caramba.

Ao longo do dia, com que roupa é preciso sair de casa?

De zero hora às 7h – Frio do cacete: sobretudo, blusa, camiseta grossa, ceroula, camisa de lã grossa, cachecol, meias de lã duplas, botina, galocha e gorro siberiano.

Das 7h às 9h – Frio e chuva: casacão, blusa, uma camisa mais leve, calça de veludo e sapato de couro com meias de lã.
Das 9h às 12h – Temperatura em elevação: calça jeans, meia de seda, camisa de manga comprida e um blusão leve no pescoço.
Das 12h às 15h – Quente para caramba: bermuda, camiseta, sandália havaiana e um suéter na bolsa para qualquer eventualidade
Das 15h às 17h – Temperatura em queda: blusa leve, calça jeans, camisa de manga comprida e um paletó básico.
Das 17h às 19h – Frio e chuva: chapéu, gabardine bem forrada, terno escuro de lã, suéter, camisa de flanela, cachecol argentino e gravata italiana.
Das 19h às 21h – Frio e vento: pijama, cobertor, meias duplas, pantufas, chá quente, pé quente e novela.
Das 21h às 23h – Frio e chuva: pijama, cobertor, meias duplas, pantufas, chocolate e filme da locadora.
Das 23h à zero hora – Fora o barulho da chuva, dentro o escurinho do cobertor duplo.

O clima de Curitiba causa dependência psicológica?

Para os psicólogos e psicanalistas, 3,2% dos pacientes preferem a praia de Matinhos; 12,6% Caiobá, 15,8% Guaratuba; 5,7% Ilha do Mel; 51% as praias de Santa Catarina; 0,01% a piscina do Clube Curitibano e os demais, com apartamento de cobertura no Batel, preferem Miami. Casos de dependência psicológica com o clima de Curitiba são poucos, todos os louquinhos trancados no porão.