A chegada do Zé Dirceu

– Façam suas apostas! – gritou o Popadiuk do outro lado do balcão, tentando encerrar uma discussão que ameaçava extrapolar a relativa ordem do boteco. Tudo começou quando a conversa no Bar do Popadiuk descambou para a chegada do Zé Dirceu.

– Quem foi mais bem recebido em Curitiba? – perguntou o polaco Stacho – João Paulo II, Getúlio Vargas ou Zé Dirceu?

– A recepção mais apoteótica da história foi no desfile dos campeões brasileiros de 1985 – respondeu um coxa roxo – Curitiba parou para aplaudir o Coritiba F. C.

– Não se esqueçam que o general Costa e Silva, em 1967, foi tão bem recebido quanto o maragato Gumercindo Saraiva na Revolução Federalista.

– Nem uma coisa nem outra! – interveio o muy estimado Nestor Benitez, historiador e especialista na Guerra do Paraguai, cuja família chegou a Curitiba refugiada da Guerra do Chaco.

– Se não foi nenhuma dessas, então só pode ter sido a vinda de Santos Dumont a Curitiba, em 1916, especialmente para assistir a um jogo do Clube Atlético Paranaense! E não devemos nos esquecer do desfile em carro aberto da miss Didi Caillet e do enterro do coronel João Gualberto na Guerra do Contestado.

Com o entrevero formado, a turma do deixa-disso prontamente devolveu a palavra ao historiador Benitez:
– Respeitadas as devidas proporções, a mais calorosa recepção jamais vista nestas paragens foi quando os curitibanos foram às ruas para receber a briosa Filarmônica Euterpina Morretense. Orgulho de Morretes e quiçá do Brasil, a filarmônica ficou famosa no retorno dos Voluntários da Pátria ao Paraná, em 27 de abril de 1870, ao acompanhar – tocando a pé na caminhada! – os soldados da Guerra do Paraguai, do Porto de Paranaguá até Curitiba.

A façanha da Euterpina Morretense quase calou o Bar do Popadiuk, não fosse o Doutor Bazinga, respeitado cientista político, botar sua douta colher no meio da conversa:

– Respeitando as devidas proporções, caro professor Benitez, sem dúvida nenhuma a mais apoteótica chegada a Curitiba foi a do ex-ministro José Dirceu. Podemos não ter visto muita gente nas ruas. Muito menos o foguetório. A cidade não saiu da rotina de sempre, mas o que tinha de gente acompanhando a procissão da Polícia Federal por trás das venezianas, nunca antes na história dessa cidade.

– Façam suas apostas! – gritou o Popadiuk do outro lado do balcão – Quem foi mais bem recebido em Curitiba? A Euterpina Morretense ou o Zé Dirceu?