Dizem muitos conhecedores da alma dos botecos que o tamanho ideal de um bar é do tamanho do bar que você frequenta. Assim também os restaurantes, explicam os que vão à mesa com muito prazer. Restaurante bom é aquele que não assusta ninguém com a conta nem com a costumeira qualidade dos pratos. Certos restaurantes são como um besouro. À luz da aerodinâmica, não teriam a mínima possibilidade de voar. No entanto voam.

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Por indicação da advogada Lorena Glock, conhecemos um desses improváveis restaurantes em Coimbra. No Beco do Forno, uma travessa estreita onde não passam dois Jô Soares ombro a ombro, sete mesas, uma única porta e num espaço para um fusca e meio, o restaurante Zé Manél dos Ossos começou em meados do século passado como um balcão onde os amigos se serviam de um panelão pra lá de bizarro: o espinhaço de porco cozido na água e sal, cortado em pequenas partes para ser roído até o mais escondido pedacinho de carne entre as cartilagens.

Esses foram os primeiros ossos do ofício de José Manoel, hoje com 83 anos e que só aparece no Beco do Forno, 12, para apreciar sua modesta tasca que ganhou fama internacional, com fila na porta para saber o que o Zé Manel dos Ossos tem que os outros não têm. A alma do negócio é a simplicidade, além da singularidade do nome e da casa: bom humor no atendimento (Rui, Jorge e Carlos), simpatia, preços honestos e uma ementa (cardápio) tão portuguesa quanto os ossos de Camões, numa mostra de que em Coimbra não só de bacalhau vive o homem. A começar pela “sopa de pedra”, Zé Manél nos oferece barriguinhas de leitão na brasa; feijoada de javali; cabrito assado no forno; cogumelos aporcalhados; filetas de linguado; cachaço na brasa; polvo na brasa; morcela na brasa; arroz de feijão malandrinho com costeletinhas de porco e a poderosa chanfana, um cabrito ao forno temperado com vinho do Porto.

Modesto na fachada, mas bem dotado na adega, outra atração daquele ambiente castiço são as paredes forradas de folhas de papel com versos escritos pelos próprios clientes. Uma delas, por exemplo, traz a receita do sucesso daquela tasca do Zé Manél: “Venha aos ossos, és dos nossos!”.

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