Quinze balaços podem ter matado o Gato Preto. No interior do restaurante, dois travestis foram mortos e outros três ficaram feridos. Daqui em diante, presume-se, só mesmo sendo muito macho para entrar no último reduto da madrugada. Uma pena. Entre mortos e feridos, também podemos perder a famosa canja de galinha da “boca do lixo”.

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Segundo a reportagem deste intimorato rotativo, por volta das 5h20 as vítimas jantavam no restaurante Gato Preto quando dois homens fortemente armados balearam os cinco travestis. Em decorrência dos mais de 15 disparos, dois deles não resistiram aos ferimentos e acabaram morrendo.

Segundo testemunhas da rua Ermelino de Leão, dois homens armados chegaram até a frente da casa noturna numa moto Yamaha amarela e se identificaram como policiais. De posse de pistolas calibre.40 e 380, os marginais solicitaram que o segurança se virasse contra a parede. Invadiram o restaurante e começaram a atirar em direção ao grupo de travestis.

Na história do apogeu e queda de famosas casas noturnas, o derramamento de sangue dentro ou nas proximidades do estabelecimento sempre é apontado como fatal. O que nem sempre é verdade. Em muitos casos, o que pode ser o caso do Gato Preto, a decadência vem de longe, e tem muitas causas. Entre elas a proibição do cigarro, medida radical que prejudicou em muito as casas noturnas dependentes da prostituição. Sem o cigarro, diga-se ainda, o Gato Preto foi penalizado duas vezes, pois os veteranos boêmios concordam que a canja de galinha do Gato Preto, sem o tempero da nicotina, nunca mais foi a mesma.

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Os leitores conhecem a “Lenda do Gato Preto”.

A história, ou lenda, teria acontecido quando o famoso cantante Julio Iglesias, hospedado no Hotel Bourbon, sumiu na noite curitibana. Na portaria ninguém sabia dele e, mesmo depois de muitas buscas, nem mesmo nos braços de uma formosa hóspede o belo se encontrava.

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Depois de muitas buscas, onde estaria Julio Iglesias? Foi chamada então a Polícia Militar que, em seguida, recebeu a ordem de enviar a viatura urgente ao Gato Preto. Um quebra-quebra estava acontecendo no local, dizia o rádio.

Quando os dois patrulheiros chegaram ao Gato Preto (a poucas quadras do hotel), quem estava no meio da confusão, agarrado pela turma do “deixa-disso”? Ele, todo vestido de preto, o próprio Julio Iglesias.

Como Iglesias foi parar no Gato Preto não se sabe com certeza. O que se sabe é que ele teria chegado sozinho, foi direto ao músico que estava no teclado de uma “porrinhola”, e pediu para cantar uma música: “Begin the Beguine”.

O azedo tecladista respondeu, sem levantar os olhos:
– Begin the Beguine? Eu só tocaria essa música para o Julio Iglesias! Te manda, cara! Aqui, canja só a de galinha.
– Pero… yo soy el proprio Julio Iglesias!
– Aqui no Gato Preto, se você é o Julio Iglesias eu sou o Frank Sinatra!
O próprio Julio Iglesias insistiu, o tecladista destratou o desconhecido, o cantante revidou, o da “porrinhola” deu um chega pra lá no gajo, a celebridade arrancou o microfone da mão do músico enfurecido, chegaram os seguranças e começou o entrevero!
Julio Iglesias voltou ao hotel dentro da viatura da PM, com o terno preto amarrotado e ainda repetindo o refrão:
– Carajos… me gustaria cantar Begin the Beguine, solamente una canja!

***

Além do criminoso caso de homofobia, o que causou espanto foi a informação de que um desembargador aposentado, que jantava no Gato Preto no momento do incidente, foi atingido por um tiro na perna.
– O que um desembargador estaria fazendo no Gato Preto? -era só o que se perguntava na sauna do Clube Curitibano.
– Ora, o ilustríssimo estava tão somente apreciando aquela famosa canja de galinha!