A caneta do Pelé

No final da Copa do Mundo de 1970, disse o zagueiro italiano encarregado de marcar Pelé:

– Eu pensei: ele é feito de carne e osso, como eu! Eu me enganei!

Se não foi feito de carne e osso, o menino de Três Corações tinha três corações batendo no peito: é o que nos leva a supor uma passagem curitibana na vida de Edson Arantes do Nascimento. Quando a biografia definitiva de Pelé vier a ser escrita (no ano 3000, talvez), no capítulo referente ao caráter de Edson Arantes do Nascimento, um episódio precisa ser contado. É uma história com dois personagens principais: o escritor e publicitário curitibano Ewaldo Schleder Filho, então com 9 anos, e Ele, então com 17, campeão do mundo na Suécia.

Naquele ano de outubro de 1958, o Santos F. C. veio comemorar o aniversário do Coritiba F. C. com o time completo: Manga, Ramiro, Formiga, Pavão, Zito e Mourão; Sormani, Coutinho, Pagão, Pelé e Pepe. O rebuliço foi grande naquela pacata Curitiba. Se chegar perto dos craques já era complicado, dar um abraço em Pelé só mesmo com um padrinho poderoso. Para correr para o abraço só mesmo o menino Ewaldo, afilhado do ex-presidente do glorioso verdão, Lauro Schleder. 

E o próprio Ewaldo é quem conta como apresentou o gramado do Alto da Glória ao Rei: “Lauro Schleder, sendo primo irmão do meu pai e meu padrinho, tornou-se por isso meu tio. Muito querido, tantas vezes me levava aos treinos e jogos do Coritiba, clube que faz aniversário no dia 12 de outubro, justamente no dia em que nasci. Naquele aniversário de 1958, com os meus 9 anos, fui com meu pai (Ewaldo) e meu tio almoçar com a delegação do Santos na sede social do Alto da Glória. Era um sábado, dia de feijoada. Depois do almoço, perguntei a Pelé se ele já conhecia o campo. Pelé disse que não, então eu o convidei para ir ver de perto o tapete verde dos coxas. Como eu sempre ia aos treinos, era gandula, conhecia todo o labirinto subterrâneo para se atingir o gramado. Imagine: caminhei com Pelé, apresentei um campo de futebol ao Pelé!”

Para aquele tão esperado momento, o menino Ewaldo compareceu devidamente armado para o autógrafo: uma caneta Parker 51, motivo de inveja na escola. Pena que, enquanto Pelé autografava o caderno de Ewaldo, uma multidão se aglomerou junto ao ídolo e sumiu a Parker 51. Pelé foi embora, a caneta foi embora, onde estaria aquela joia da coleção do pai? 

Três anos depois, o Santos retornou a Curitiba para comemorar outro aniversário do alviverde. E quem estava no aeroporto Afonso Penna esperando Pelé? Ewaldo Schleder já quase esquecido daquela invejável Parker 51.

Quando Pelé desceu do avião, Ewaldo correu para o abraço e, para a surpresa do menino, Edson Arantes do Nascimento botou a mão no bolso da camisa:

– Aqui está a sua Parker 51. Você esqueceu, eu não esqueci!