A vizinhança está em polvorosa. De um lado da rua os vizinhos comemoram discretamente que, enfim, o vetusto General Inverno fechou as malas para passar sua costumeira temporada no Hemisfério Norte.
– O velho está gagá! Vai passar alguns meses numa clínica de reabilitação na Suíça – dizem as fofoqueiras da casa ao lado.

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Para os vizinhos mais velhos, que conheceram o General Inverno em plena forma, há muito que ele não é mais o mesmo. Aposentou-se por invalidez. Hoje não passa de um inverninho, diminutivo que nem ao menos zero grau alcança. Verdade que ninguém é insubstituível. No entanto, nos últimos anos o General anda bem mixuruca. Relaxado, nem de longe tem o caráter dos seus bons tempos na ativa. Falta-lhe autoridade. É um frouxo.

– El flaco! – assim está sendo chamado.

Vera é parente próxima do General Inverno. São primos por parte do Doutor Outono, o introvertido intelectual que mora uma casa adiante da senhorita Verão – aquela morena espetacular que agora faz propaganda de cerveja.

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Do outro lado da rua, a vizinhança comemora o retorno da prima Vera. Ruiva da cor de um fim de tarde, ela estava em férias na Polônia, onde foi visitar os parentes da Cracóvia. Paulo Leminski – de quem Verinha é prima distante – afirmava com todas as letras que em Curitiba impera a mítica do trabalho trazida pelo imigrante. Uma compulsão que reprime o princípio do prazer em prol do princípio da realidade. A nossa prima Vera é polaca e cumpre uma rigorosa agenda de trabalho como florista: segunda-feira na Rua das Flores; terça-feira no Parque Tingüi; quarta-feira no Parque São Lourenço; quinta-feira no Jardim Botânico; sexta-feira no Parque Barigüi. Aos sábados, percorre os cemitérios para vender suas coroas de flores. E aos domingos e feriadões, como qualquerwfilha de Deus, a prima Vera sobe a serra e se esparrama nos Campos Gerais ou, no mais das vezes, desce a Estrada da Graciosa para mergulhar no rio Nhundiaquara.

Ao desembarcar das férias, enquanto o General Inverno se despedia melancolicamente para se revigorar em outras plagas, a nossa querida prima Vera não podia ter sido recebida de maneira mais calorosa: num céu de brigadeiro, com nenhuma nuvenzinha para lhe fazer sombra embaixo de um raro sol curitibano de quase 30 graus.
Seja bem-vinda, prima Vera!

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