A bagatela do diabo

Pelo que se deduz das falcatruas que envolvem Rosemary Noronha, a ex-secretária do Lula é uma “petequeira”. Em troca de “favores”, a preferida aceitava singelos mimos: ingressos para camarote no Carnaval, cruzeiros no litoral paulista, pagamento de cirurgias, quitação de apartamento financiado, Pajero de 55 mil reais e até mesmo uns trocados para comprar móveis para o apartamento da filha.

Modestíssima para o círculo que frequentava, vendeu sua alma ao diabo a preço de banana. Faz lembrar um personagem do escritor Lima Barreto que também negociou sua alma com o badanha. Era um camarada simplório, tal e qual a Rosemary, que sonhava frequentar restaurantes chiques para pedir lagosta com vinho francês.

Muito aborrecido e desgostoso da vida, sentindo-se o último dos homens, o camarada começou a pensar no que havia feito de errado na vida para ser assim excluído do luxo. Queria experimentar tudo do bom e do melhor neste mundo de Deus, mas como arranjar dinheiro para tudo isso?

O camarada imaginou meios e modos (corrupção, furto, estelionato, tráfico de influência?) e acabou pensando no diabo: “Se ele quisesse comprar-me a alma? Havia tanta história popular que contava pactos com ele que eu, homem cético e ultramoderno, apelei para o diabo, e sinceramente!”.

O diabo, – conta Lima Barreto – era um cavalheiro como qualquer, sem barbichas, sem nenhum atributo diabólico. Entrou como um velho conhecido. Sem cerimônia o capeta sentou-se e foi perguntando:

– O que querias de mim?

– Vender-te minha alma!

E o diálogo continuou assim:

Diabo – Quanto queres por ela?

Eu – Quinhentos contos.

Diabo – Não queres pouco!

Eu – Achas caro?

Diabo – Certamente!

Eu – Aceito mesmo a coisa por trezentos.

Diabo – Ora, ora!

Eu – Então, quanto dás?

Diabo – Filho, não te faço preço. Hoje, recebo tanta alma de graça que não me vale a pena comprá-las.

Eu – Então, não dás nada?

Diabo – Homem! Para falar-te com franqueza, simpatizo muito contigo, por isso vou dar-te alguma coisa.

Eu – Quanto?

Diabo – Queres vinte mil-réis?

E logo perguntei ao meu amigo:

– Aceitaste?

O meu amigo esteve um instante suspenso, afinal respondeu:

– Eu… Eu aceitei!
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Rosemary Noronha não chegou a fazer fortuna. Tirando os presentinhos, foi mais ou menos o quanto sobrou para a preferida do Lula: algo em torno de vinte mil-réis. Uma bagatela.