A próxima segunda-feira (11) é dia de festa na literatura policial brasileira: Rubem Fonseca completa 90 anos. Escrevendo com regularidade todos os dias, o autor de Bufo & Spallanzani mantém uma rotina rígida de produção. Considerado, ao lado do curitibano Dalton Trevisan, que também chega aos 90 anos em 2015, porém em junho, um dos maiores contistas brasileiros, Fonseca mora sozinho no Rio de Janeiro e recusa grande parte dos convites para entrevistas e festivais.

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Ainda que cultive a conduta reclusa, há dois anos, ele “apadrinhou” um ipê perto de sua casa, no Leblon. A árvore foi plantada pela empresa responsável pela linha de metrô que passa próximo à residência de escritor. No final das contas, Rubem se tornou o “avô” dos funcionários que trabalham na construção da estação.

No entanto, a presença de Fonseca em alguns eventos literário além-mar despertou o ciúme de brasileiros. Panos quentes sobre a questão, mas existe certo desconforto sobre comentário de autor em festivais estrangeiros. A vingança, muitas vezes, vem por meio de resenhas preguiçosas e com veredictos impassíveis de que, com nove décadas de vida, Rubem Fonseca “se repete”.

Contramão

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A defesa vem de seus congêneres. Marçal Aquino, autor de O Invasor, disse à Folha de S. Paulo que “qualquer escritor que lide com literatura policial ou urbana (…) deve algo a ele”. E é a mais pura das verdades. Em solos tupiniquins, a literatura policial ainda é vista com o mesmo preconceito que o gênero enfrentou nos Estados Unidos – ou na Europa – décadas atrás, o que explica a rejeição pelas alas da “alta literatura”.

Rubem Fonseca transita na contramão dessa tendência, alcançando certos degraus acima de colegas. Basta ver as paletas de referências do escritor, como A Cavalaria Vermelha, de Isaac Bábel, a inspiração para Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, ou ainda a vida do maestro Carlos Gomes, retratada em O Selvagem da Ópera. 

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