A literatura chilena é uma das que mais têm me atraído nos últimos anos. O nome que vêm à cabeça de qualquer ao se falar da produção literária no Chile é Roberto Bolãno, autor morto em 2003 e que se transformou em coqueluche ao se falar de escritores latino-americanos do século XX. E, por certo, o diagnóstico não está equivocado, embora, limitado.

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2666, As Agruras do verdadeiro tira e Chamadas telefônicas são verdadeiros monumentos literários de um país que um dia foi dominado por uma das mais brutais ditaduras que aportaram na América Latina. Ainda assim, excluir Alejandro Zambra, autor que há pouco deve chegar aos 0 anos, e José Donoso, morto em 1996, beira a insanidade, para não dizer ignorância.

Zambra carrega o ritmo jovem de sua geração. As tramas de Bonsai, A Vida privada das árvores e Formas de volta para casa não são pautadas no rocambolesco, não têm reviravoltas e não carregam o mistério da literatura policial. Ao contrário, os livros de Zambra são manifestos políticos contra a apatia da sociedade chilena – que é muito parecida com a brasileira. Bonsai se transformou em filme, mas o longa não carrega um terço da sensibilidade da obra literária.

Já Donoso está no panteão. O Lugar sem limite e O Obsceno pássaro da noite, suas duas únicas obras publicadas atualmente no Brasil, exploram as camadas esquecidas da sociedade. O Lugar sem limite, lançado na década de 1960, já lidava com a questão da sexualidade e a identidade. Donoso foi um homem que esteve adiante de seu tempo e ainda não conseguiu ser alcançado – nem no Chile, nem no Brasil.

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