Persona non grata em muitos círculos literários, Maria Kodama, a víuva de Jorge Luis Borges (1889 – 1986), é considerada a Yoko Ono beletrista – os mais modernos a chamam de Curtney Love. Chamada de oportunista por ter se casado com o escritor, que à época já era um homem idoso, Kodama foi aluna de Borges em Buenos Aires e depois se transformou em uma espécie de secretária ou assiste pessoal.

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Filha de pai japonês e mãe alemã, ela ocupou a lacuna deixada pela mãe de Borges, morta 11 anos antes do filho. O biógrafo do escritor argentino, Edwin Williamson, afirma que o autor de Ficções tinha uma relação estreita com a mãe – e tão próxima, ao ponto de receber telefonemas de dona Leonor enquanto estava em algum café ou bar portenho (muitas vezes na companhia de alguma dama).

Escritora sem livros, Kodama fez ao lado de Borges um caderno de viagens, Atlas, algo muito próximo a um álbum de casamento. Ela é detentora dos direitos de todas as obras produzidas pelo marido, inclusive aquelas escritas antes mesmo que tivesse nascido. Para amigos próximos ao escritor, Kodama só quis se aproximar de um homem que, segundo Italo Calvino, é o maior narrador intelectual, por pura convenção.

A prova de que María Kodama não é bem quista nem pelos fãs de Borges está em sua página oficial no Facebook: não tem nem 800 “curtidas”. Enfim, isso é só glacê em um bolo de barro.

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Plágio?

A repercussão mais recente dos desafetos literários de Kodama é o processo movido contra o escritor Pablo Katchadjian. A viúva acusa o compatriota de ter plagiado um dos contos mais famosos do marido, O Aleph, para publicar uma novela chamada El Aleph engordado. Bem, em termos práticos, Katchadjian usou a técnica de Duchamp do ready-made para criar seu texto.

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El Aleph engordado funciona como uma remix ou ainda como os rappers que se valem de base de outras músicas para criar as suas próprias – os famosos samples. A forma é muito parecida: Katchadjian colocou novas palavras entre o texto de Borges e criou um novo produto.

Quando o escritor norte-americano Jonathan Safran Foer usou The Street of crocodiles, de Bruno Schulz, para criar o seu The Tree of codes a empreitada era uma “arte conceitual”. Mas não seria então um crime Foer recortar o livro de Schulz para “escrever” o seu? No fim das contas, Katchadjian pode ser preso e precisa lutar contra o tempo para não se ver atrás das grades.