A literatura brasileira está em uma situação delicada. As mortes de Rubem Alves e João Ubaldo Ribeiro colocam em xeque a atual produção literária do país. É claro que existe uma renovação entre os autores – basta dar uma olhada nas prateleiras das livrarias e ver nomes como Daniel Galera, Antônio Prata, Xerxeneski e alguns outros “escolhidos” -, mas a questão que levanto é a representatividade da atual geração.

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A literatura atualmente tem corrido entre os guetos e becos, escorrendo entre os dedos dos leitores – que já não estão atentos ao que os cerca. Por qual fase passamos agora? Quem sabe essa seja uma segunda safra de exportação de nomes brasileiros – a primeira aconteceu com Jorge Amado e Erico Veríssimo, os dois autores pioneiros na “arte de sobreviver de literatura”.

O Brasil nunca foi uma referência na exportação de “alta cultura”, aquela dita erudita, sempre colocamos à disposição dos gringos os produtos com maior maneirismo – à exceção da bossa nova, que foi primeiro produto de qualidade a sair de nossas terras -, mas o resto estava repleto de elementos que caricaturais, elementos criados para conceber uma imagem que nem sempre se correspondia à realidade.

Mas literatura feita hoje no Brasil não é maneirista, ao contrário, possui identidade e cor própria, pincelando influências universais sem que o caráter nacional seja perdido ou diluído em água de outros oceanos que não o Atlântico. O que temos então? O que somos? Para onde vamos?

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Acima de tudo, o cenário dos últimos dez anos mostra que o público-leitor aumentou, o que não significa que ganhamos em qualidade, ao contrário, acredito que o leitor médio é cada vez menos exigente e mais suscetível aos nuances da publicidade, modas literárias e jogadas de marketing. O crescimento do número de livrarias no país – e da expansão das maiores redes – ainda é pífio se comparado ao que se tem na Argentina – se medir forças com a Europa a derrota é pior que o 7 X1 da seleção.

A solução a meu ver está no debate sério, proposto por alguns grupos sem vínculos com o governo ou com empresas. Essas iniciativas são as que mais têm rendido bons frutos, algo muito parecido com cineclubismo que tem retornado com força. A literatura é formado no cotidiano, nas ações pequenas e que são capazes de gerar uma mudança no raciocínio do leitor. Se nada mudar, não é literatura. É entretenimento.

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