Julio Cortázar: 100 anos

Julio Cortázar teria morrido de AIDS, justamente, no momento em que a doença se transformava em uma paranoia em todo o mundo, em 1984. Seu nascimento aconteceu pouco depois que a Primeira Guerra Mundial foi declarada – na Embaixada da Argentina na Bélgica.. Os cem anos de Cortázar, escritor argentino que viveu boa parte de sua vida em Paris, demonstram que as possibilidades da literatura sul-americana são infinitas.

Contemporâneo de Borges, Cortázar ajudou a criar a imagem da literatura argentina e construiu seu próprio bestiário. O autor sempre soube que, para alcançar algum sucesso, não poderia continuar em seu país de origem e por isso tomou o rumo de Paris, cidade que despontou para artes e se transformara – anos antes – no melhor – e talvez único – para qualquer artista de vanguarda sobreviver.

Mas Cortázar não era esse homem prolixo que tanto pintam, ao contrário, ele desejava apenas o reconhecimento merecido pela sua arte e lutou com unhas e dentes para consegui-lo. Em uma entrevista publicada à época de sua morte, o autor afirma que somente com níveis altos de alfabetização é possível disseminar a leitura de uma forma geral. A frase que parece óbvia é, na realidade, um manifesto sobre o obscurantismo pelo qual passou a América do Sul nas décadas anteriores, com ditaduras, torturas e mortes em nome de um ideal falho.

Cortázar sempre foi um homem à frente do seu tempo, tendo ao seu lado somente outros dois latinos: Bolaño e Borges. Fora estes dois, ninguém se compara a ele. O Jogo da Amarelinha é seu livro mais conhecido, mas a inventividade percorre toda a sua obra, desde os contos mais simples aos mais complexos.

Na Argentina, percorrer as ruas da cidade é correr atrás de Borges, já que Cortázar passou boa parte de seus dias em Paris. A notícia recente de que um dos lugares mais significados para a obra deste último está fechando é um tiro no peito da literatura. O bar Britânico, assim como o Café Tortoni, é um símbolo importante da criação literária de autor.

Sem nenhuma coincidência, este ano a editora Record preparou o relançamento de boa parte do catálogo de Cortázar no Brasil. É uma boa pedida para quem ainda não o conhece e para quem quer revê-lo.

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