Das tripas, coração

As entranhas são as partes mais íntimas do ser humano. Escondidas de todos, elas são o segredo mais sincero que guardamos. Exposição das tripas, livro mais recente de Paulo Sandrini, é – como se pode imaginar pelo título – a revelação de todas essas minúcias e de tudo aquilo que antes permanecia à deriva dos olhos, um catálogo de experiências e de toda sorte de sentimentos.

Sandrini cria o paradigma em que prosa e poesia se confundem e o que conta são as palavras que formam frases sem rótulos, próprias do poeta mas também certeiras ao prosador. Quem sabe a definição de Exposição das tripas seja apenas uma: indefinível. Todos os 14 textos flertam com algum estilo literário – indo do policial godardiano (“Deviam ser ‘belos dentes”) ao mais campeiro Alberto Caeiro de nossos tempos (“Túneis”). Mas nada ali possui um rótulo, algo que possa informar ao leitor exatamente de que se tratam aquelas palavras.

Exposição das tripas não é um voo solo. É a combinação entre a poesia, a fotografia e as artes plásticas. As ilustrações de Danilo Oliveira e Fabiano Viana e as fotografias de Diego Singh – obviamente em conjunto com o texto – são o painel interior da insegurança e dos medos mundanos que assombram o homem.

Descontrole

Tal como Iberê Camargo colocava toda a dramaticidade da vida em suas telas, Sandrini explora os limites entre a realidade a ficção, o drama e a razão e questiona a necessidade de aceitar nossos dias como eles são. Se o pão é duro e não mata a fome e se a água só serve para tomar remédio, de que vale a vida?

Não existe resposta, até porque, como o próprio autor nos relata, o ser humano faz de seu desespero um aprisionamento, sem argumentos ou chances de mudar o destino. E justamente esse silêncio, essa dificuldade de comunicação – ao melhor estilo de Bergman ou Antonioni – é o que faz de nós o que somos, mas é a incomunicabilidade que permite que a paz se dissipe – inclusive a paz interior – e a opressão e a depressão reinem como absolutistas em um mundo moderno.

Mas Sandrini não encarna o Brett Anderson brasileiro. Nem o Ian Curtis curitibano. Tampouco o Torquato Neto do seu bairro. A voz de Sandrini é pessoal e única. Essa voz é o fruto da experiência e da imolação que é viver.

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