Crítica: “Últimas tardes com Teresa”, de Juan Marsé

Pijoaparte é o típico anti-herói de Pasolini: delinquente, vivendo à margem da sociedade e pouco afeito às convenções que a elite lhe impõe. Quando conhece uma menina rica, ele acredita que aquele pode ser seu trampolim para abandonar sua “tug life”. Mas ele não saiu de nenhum filme ou livro do intelectual italiano, Pijoaparte é fruto da imaginação do escritor espanhol Juan Marsé, que o transformou em sinônimo da resistência no romance Últimas tardes com Teresa (Alfaguara, 422 págs., R$ 49,90).

 Para se aproximar de Teresa, o arquétipo perfeito do “rebelde sem causa”, Pijoaparte se aproximar de uma empregada da adolescente rica, Maruja. Somente quando a serviçal está à beira da morte é que o rapaz realmente se dá conta de Teresa – que havia sido “abordada” por ele em uma festa, na qual entrou como penetra.

Ainda que Marsé tenha publicado o livro em 1966, Últimas tardes com Teresa funciona bem como crítica social em nossa sociedade da informação. Talvez, o Brasil reflita ainda os ecos das aflições dos jovens de Barcelona da década em que os Beatles eram a maior sensação ou, simplesmente, nada mudou e a juventude esperar pelas mesmas respostas – que seus pais há quase 50 anos.

 A carta na marga de Marsé é o naturalismo perfeito citado por Vargas Llosa no prefácio, isso explica a semelhança com os “meninos da vida” de Pasolini, mas também coloca luz sobre os diálogos interiores dos personagens e seus pensamentos fragmentados, um recursos inspirado pelo real. Aos poucos, o sonho da Dama, em viver um romance anárquico e contrário à riqueza que os pais a oferecem, e do Vagabundo, em deixar a sargeta, escorre entre os dedos e transforma em areia.

 Luta de classes

 Teresa e Pijoaparte, cujo verdadeiro nome é Manolo, não conseguem impedir a luta de classes e tudo o que acreditavam se torna uma grande ruína. É impossível não se afetar com o colapso do casal, mas não se engane: o que mais puxa o leitor não é o sentimentalismo da relação entre eles, e sim a certeza de que a nobreza nunca permite que o rude plebeu entre e se abanque no palácio.

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