Crítica: “Se só me restasse uma hora de vida”, de Roger Pol-Droit

O livro Se só me restasse uma hora de vida, do filósofo francês Roger Pol-Droit (Bertrand Brasil), é uma tentativa arriscada de se entender o sentido da morte. Conhecido ao redor do mundo por tentar contextualizar a filosofia com o dia a dia do homem comum, Pol-Droit constrói em sua obra mais recente um grande ensaio como preparação à única característica que une a todos: a mortalidade.

Se existe uma certeza, é a de que todos morreremos. Esse é o momento em que não existe diferença entre classe social, cor, religião ou sexo. O momento derradeiro – o último suspiro, a última palavra – é instante em que o homem pode ser expurgado de todo o pesar que carrega(va).

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Segundo as lendas que povoam o mundo literário, Wilde, em seu último minuto na Terra, teria dito “ou eu fico ou esse papel de parede”. Fechou os olhos e morreu em um hotel-pulgueiro em Paris. Voltaire, iluminista francês e fiel combatente da Igreja, teria devorado as próprias fezes pouco antes de morrer. A lição que se tira é de que a morte é assustadora e coloca em xeque a noção de real do mais prudente ser humano.

Urgente

A grande preocupação de Roger Pol-Droit não é ensinar filosofia, mas sim colocá-la ao alcance de qualquer um – por meio de questionamentos éticos e morais. É mesma estratégia que o cineasta alemão Michael Haneke constrói em Amor, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, ou André Gorz, em seu derradeiro livro, Carta a D..

Muito menos dramático que o Haneke e Groz, Pol-Droit demonstra a importância da aceitação da morte, não com uma compensação religiosa – reencarnação, paraíso, etc -, mas pelo simples fato de que esta é a lei da natureza, não há fuga e ninguém escapa à foice. Ainda assim, o autor não consegue deixar de elucubrar sobre urgência da vida e a necessidade do agora.

Em suma, Se só me restasse uma hora de vida é uma ode ao presente, um contento lírico ao futuro anuviado e duvidoso que nos espera.