Um leitor médio se sentirá, no mínimo, intimidado com as 900 páginas de Os Luminares, de Eleanor Catton, mas aos poucos o quebra-cabeça narrativo começa a criar corpo e – quando perceber – a trama estará enredada em seu corpo, sua mente e espírito. O trunfo do livro é justamente esse: a narrativa. E se pensar que a autora é uma neozelandesa de apenas 29 anos, a surpresa é ainda maior – e melhor.

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A gênese de Os Lumiares é composta por 12 homens, cada um associado a um signo do zodíaco, e que atravessam os anos em busca de resposta aos misteriosos acontecimentos que abalam a paz de um vilarejo na Nova Zelândia.

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Esses 12 homens são arquétipos – como é de se imaginar -, mas são uma forma moderna de representar os habitantes de uma cidade ao melhor estilo de Balzac. No final das contas, todos os personagens estão imersos até a cabeça em um inferno-astral compartilhado com os leitores.

Tempestade neovitoriana

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As primeiras páginas de Catton já deixa claro o será encontrado. A tempestade que se abate sobre o navio Godspreed é uma alegoria perfeita à instabilidade dos seres humanos e sua dificuldade de lidar com acontecimentos calamitosos. O quê filosófico do livro não se sobrepõe ao thriller composto pela autora, porém, o mistério é somente uma das peças utilizadas para prender o leitor em um emaranhado de informações.

E, claro, este é, justamente, um dos trunfos da autora. Com a prosa seca e direta é mais fácil conduzir os acontecimentos, por isso, a narrativa de Catton tem sido chamada de ‘neovitoriana’. O adjetivo serve também para qualificar a beleza do texto – a única ferramenta capaz de colocar quem lê em xeque.

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