Crítica: “O Assassino que mutilava Leminski”, de Anísio Homem

No final de janeiro, as preferências por prosa e poesia terminaram com um homem sendo esfaqueado na Rússia. Na época, a polícia alegou que a vítima berrava aos quatro ventos que “a única forma de literatura é a prosa”. Um defensor inveterado da poesia discordou e o matou sem nenhuma dó. As mesmas diferenças que acabaram por matar um prosador são o alicerce do novo livro de Anísio Homem, O Assassino que mutilava Leminski (Letras Contemporâneas, 120 págs., R$ 30).

Com um enredo simples: um serial killer usa adaptações de haicais do poeta Paulo Leminski (1944 – 1989) como pistas para o crime, Homem (o autor) cria uma intrincada rede narrativa que combina os mais comuns cenários de Curitiba, desde ruas centrais até o Bar do Pudim, com os clichês do jornalismo diário.

As mortes, que inicialmente, não passam de um evento cotidiano em uma redação de um jornal popular começam a ganhar uma forma macabra quando Zeca, um fotógrafo do jornal “O Popular”, literalmente, rouba do bolso do morto o primeiro poema que irá levá-lo à caça do assassino. Para tentar resolver a pendenga, Igor Makoviec, jornalista aposentado, é recrutado pelo amigo.

Como não existe crime perfeito, não demora muito para que os rastros do serial killer caia no caminho da dupla, uma espécie de Dom Quixote e Sancho Pança da Era da Informação. O livro é carregado de referências pop, um prato cheio para que gosta de descobrir significados obscuros.

Daltonismo

Makoviec é um sujeito sabido e muito mais esperto que Zeca. Aos poucos, ele vai percebendo que nem tudo o que se vê é o que realmente parece. Para criar esse clima, Homem usa uma sintaxe simples, muito próxima da usada por Dalton Trevisan.

O Assassino que mutilava Leminski é um ambiente de evidências mínimas e significativas, igual a um haicai.