Crítica: “Flores da ruína”, de Patrick Modiano

O ponto de partida para Flores da Ruína, de Patrick Modiano é o suicídio do casal T. após uma orgia, mas aos poucos a narrativa se transforma em uma armadilha labiríntica. Nobel de 2014, Modiano é um escritor elíptico e ensimesmado – como se percorresse várias vezes os mesmo lugares atrás de respostas de diferentes.

Seus temas prediletos são a Paris ocupada pelos nazistas e o pós-guerra. Mexer nessas feridas impede que elas cicatrizem e talvez seja essa a intenção. Infelizmente, não temos o mesmo tratamento com a ditadura brasileira (o que pode explicar – mas jamais justificar – os pedidos absurdos de que ela retorne). Os personagens de Modiano estão sempre em situações-limite, à beira de um abismo ou envoltos em uma espécie de neblina.

Em Flores da Ruína, o início é a ponta de um iceberg que precisa ser desvendado. Ao contrário de Uma Rua de Roma, não há o clima policial ou detetivesco e nem a atmosfera noir, mas existe sim um desabafo pessoal identificável pelas “coincidências” bibliográficas entre o autor e seu protagonista.

Dejà-vu

Modiano tem algo maior que um estilo próprio: ele parece escrever sempre no mesmo tom e com o mesmo ritmo – como seus livros fossem um a continuação do outro. Os detalhes pessoais de suas obras são, até certo ponto, um atrativo à parte, que permite ao leitor vivenciar o sentimento dos personagens encurralados pela guerra e suas consequências.

Assim como Jorge Luis Borges, Modiano cria labirintos que ficam a um passo do onírico, mas diferentemente do argentino, o escritor francês não usa o fantástico, ao contrário, crava os pés no realismo para reviver a ambiência que quer dar ao livro.

Por mais que retrate os dramas de uma nação abalada pelo domínio inimigo, Modiano evita o sentimentalismo piegas, mas não consegue abandonar a visão pesarosa pelos anos nebulosos em que a França foi subjugada.

Confira a resenha de Uma Rua de Roma

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