Quando o jornalista Edney Silvestre lançou, em 2009, Se eu fechar os olhos agora o brilho do livro foi ofuscado pelo quiproquó do Prêmio Jabuti envolvendo Leite derramado, de Chico Buarque. Passados os constrangimentos – Edney sempre deixou claro que admirava o autor de “A Banda” e que a confusão era fruto da imprensa e das editoras -, o ex-correspondente da Globo em Nova York ganhou os holofotes como um dos escritores mais importantes e talentosos da literatura contemporânea.

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Sempre afeito aos temas caudalosos, o escritor não deixa por menos em seu mais recente lançamento, Boa noite a todos (Record, 208 págs., R$ 28). A obra é uma colcha de retalhos – e um acerto de contas – de Maggie, uma ex-rica que escolhe morrer (leia-se suicídio) no mesmo lugar em que nasceu. O problema é que a velha casa se transformou em um luxuoso hotel e que terá a mais alta suíte como palco para o salto da protagonista para o Além.

Silvestre constrói um espelho que não revela elegância ou pompas: Maggie se transforma em uma caricatura do reflexo que projetava sobre uma sociedade acostumada aos sacrilégios de uma elite abarrotada de deveres nonsense. Seus três casamentos destruídos; sua frustração por não ter filhos; a sua solidão voluntária. Todos são elementos para a sua derrocada.

Divulgação

Assim como Os Piores dias da minha foram todos, de Evandro Affonso Ferreira, Boa noite a todos dilacera o leitor ao aproximar o drama do personagem daquilo que chamamos de vida real.

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Do Erudito ao pop

A “falsa felicidade” de Maggie é recheada pelas referências eruditas e pops que recheiam a obras e são reveladas no final, em uma parte chamada “Mosaico de Maggie”. E tem mais. Boa noite a todos não é somente uma novela. O livro é também uma peça de teatro. Os dois textos – muito próximos em forma e conteúdo – estão no mesmo volume, mas alcançam patamares diferentes, sendo a criação teatral arrebatadora.

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Quando fala sobre a peça, Edney é categórico: não é um monólogo e sim um texto com apenas um personagem. Maggie não está sozinha. Ela está rodeada pelas lembranças de um tempo que ainda é real, ao menos, em sua memória.