Crítica: ‘Aguapés’, de Jhumpa Lahiri

As semelhanças entre Brasil e Índia são muito maiores que uma ponte aérea (que nem existe) na novela das 21h. Aguapés, o livro mais recente de Jhumpa Lahiri, é um retrato dos sonhos que moveram um país durante a insurreição naxalista, a partir da década de 1960. A situação indiana é recriada por meio de dois polos, os irmãos Udayan e Subhash Mitra. Enquanto primeiro é idealista e luta para tentar libertar o povo, o outro consegue deixar a Índia e se reconstruir – a palavra é exatamente essa – nos Estados Unidos, onde se estabelece como pesquisador.

Divulgação
“Aguapés”, de Jhumpa Lahiri.
Biblioteca Azul. R$ 44,90.

As duas primeiras partes do livro funcionam como uma introdução, colocando o leitor a par das questões políticas e dos detalhes de caráter que fizeram com que cada irmão seguisse um caminho diferente. Apesar da distância, Udayan e Subhash estarão ligados para sempre, graças a uma mulher Guari.

Intelectual e obstinada em ter uma vida acadêmica independente, Guari abandona o marido e a filha para dar aulas em uma universidade norte-americana. A história sobre a desistência da vida familiar e o passado na Índia se arrasta pelas páginas do livro como se Lahiri carregasse a obrigação moral de terminar o livro que levou quinze anos para ficar pronto. Mas Aguapés empolga ao retratar a classe-média indiana, sempre deixada de lado em prol de comiseração diletante das castas inferiores.

Em busca do tempo perdido

Guari é – no mínimo – o alter ego de Lahiri. A descrição física é muito semelhante. A descrição ideológica grita pelos pontos em comum. Talvez seja, justamente, a autoficção que faça com que a autora saiba como ninguém administrar a passagem de tempo. Os saltos fazem com que 40 anos se passem com naturalidade e conseguem emendar com alguma maestria as lacunas deixadas pela escritora.

Avaliação: bom.

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