António Lobo Antunes nunca foi um escritor das massas, mas a recente queda nas vendas de suas obras trouxe à tona a atual crise no mercado editorial português. Em um artigo publicado no jornal lusitano “Observador”, a jornalista Joana Emídio Marques expõe os 1,6 mil exemplares vendidos de Caminho Como Uma Casa Em Chamas, lançado no ano passado, como reflexo da obsolescência de seu autor.

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O espanto, inclusive do mercado, está no fato simples de que o autor de Os Cus de Judas (1979) vendia – em média – 30 mil cópias de cada obra recém-lançada. Pedro da Mata, diretor de comunicação da Fnac portuguesa, vê como principal problema a falta de autopromoção como elemento sabotador de Lobo Antunes. O que venderia, então, Thomas Pynchon, Dalton Trevisan ou Salinger? O português não faz turnês promocionais – como Ian McEwan, Martins Amis e tantos outros -, mas não é difícil encontrá-lo em feiras e festivais. Ele foi um dos convidados principais da Flip de 2009, por exemplo.

O caminho para entender a queda de António Lobo Antunes talvez se revele um pouco mais tortuoso. Considerado inimigo do peito de José Saramago, a morte do autor de Ensaio sobre a cegueira (1995), em 2010, o teria ofuscado. É possível que a questão não seja/esteja resolvida de forma tão simples.

Vendas

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Portugal é um mercado muito mais atrativo que o cenário brasileiro para autores do porte de Lobo Antunes. Ainda assim, a Terrinha viu seu mercado encolher 4,6% em 2013 em termos de varejo e 47% nas exportações para Angola e 16% para Moçambique. Por mais que esses dados não resumam a situação de António Lobo Antunes, eles servem como base para se compreender a queda nas vendas de forma geral.

Expor um homem que escreveu Meu nome é Legião (2007) ou As Naus (1988) como causador da sua própria desgraça é um tanto incoerente – ingênuo ou maldoso. Um levantamento do Correio da Manhã, de 2013, apontou que no ano anterior o mercado livreiro recuou cerca de 50 mil livros por mês. Essa queda representou, à época, retração de 9%.

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Com esse pequeno mosaico é possível perceber que a redução é sintomática e não uma anomalia literária ou uma maldição que recai sobre os autores.