Não é o fim. Philip Roth nunca foi um homem, propriamente, recluso, que vivesse escondido, às margens. Quando anunciou em 2012 que se aposentadoria houve um quê de comoção e resignação por parte de todos os que não tinham aproveitado tudo que aquele homem tinha feito pela literatura, desde que lançou seu primeiro livro, Adeus, Columbus, em 1959. Agora, saber que nesta terça-feira (20) o autor fará – segundo ele próprio – a sua última aparição pública é realmente dor o coração.

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Roth, que completou 81 anos em março, já não escrevia grandes livros – no sentido de dimensão mesmo – há algum tempo, se dedicando a pequenas novelas, sem as mesma complexidade (mas com tamanha genealidade tal qual) de O Complexo de Portnoy, lançado uma década depois de sua “estreia”. Mas será que ele precisava mesmo desse “tempo”? Para mim não.

Com o típico humor norte-americano, Roth relembra que viveu da melhor com o que tinha em mãos: alcançou a fama como escritor; ficou famoso por suas conquistas amarosas e confessa que teve tudo para arruinar a sua vida.”Eu recebia centenas de cartas, muitas delas como fotos de mulheres em biquíni”, confessa a Alan Yetod, da BBC, seu último “algoz”.

E, por sinal, conversar é o que Philip Roth mais tem feito. “Agora eu já não escrevo, só quero bater-papo”. Mas é impossível conversar com ele e não falar de sua literatura, evocar suas personas e personagens mais emblemáticos e tentar descobrir o que há de Roth em cada um deles – em especial no seu alter ego Nathan Zuckerman.

Não há decadência em sair do palco – quando é a hora certa de sair do palco. E isso foi algo que Simon Axler, o ator decadente de A Humilhação, de 2009. Por mais triste que seja, é preciso dar adeus a Philip Roth, que mesmo vivo escolhe morrer para o mundo, mas deixa uma – e que obra. Mas não, não é o fim.

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