A morte de Nadine Gordimer

Nadine Gordimer foi Nobel de literatura e escreveu mais de 15 obras – além de uma miríade de contos -, mas precisou morrer para ser lembrada. Falecida no último domingo aos 90 anos, a escritora sul-africana foi engajada na luta contra o apartheid e, junto com Coetzee (também Nobel), ajudou a criar um novo retrato da cultura em seu país.

Sua morte foi como a sua vida: silenciosa e percebida por poucos. Nadine era pequena, de fala mansa e roupas elegantes, porém, a sua prosa carregava o pessoa dos anos de chumbo da África do Sul. Pouco dessa posição era a herança de sua família de imigrantes judeus que moravam em um bairro rico de Johannesburgo. Mesmo tendo nascido no seio de uma família burguesa, Nadine foi tirada da escola aos dez anos depois que sua mãe cismou que a filha era portadora de alguma doença cardíaca.

A educação foi feita em bibliotecas, locais frequentados desde muito cedo pela escritora. Sobre suas frenéticas leituras, certa vez, Nadine afirmou que, se fosse negra, provavelmente, não teria se tornado escritora. “Os locais que eu frequentava eram proibidos a eles (os negros)”, lamentou.

O extremismo do regime que pairou sobre a África do Sul, entre 1984 e 1994, serviu de sumo para que ela construísse uma obra sólida, pautada no ser humano e no humano. Após o fim do mais sombrio período do país, Nadine não deixou de ser contestadora e colocar em xeque as decisões tomadas pelos “representantes” de seu povo.

A sua proximidade com Nelson Mandela, morto no ano passado, só viabilizou sua postura política e devolveu à literatura sul-africana a gana de gritar contra o que não é de sua vontade. Adeus Nadine, seu corpo esvai-se, mas sua obra é para sempre. 

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