1O romancista Joca Reiners Terron – autor de livros distantes das listas de mais vendidos ou contemporâneos consagrados, mas figura constante em feiras literárias all over the world – fez uma crítica a pedido da Folha de S. Paulo para o 1Q84, de Haruki Murakami. O texto é de 2012 e, por tanto, lá se vão três anos da resenha. Ainda assim, esse texto nunca desapareceu por completo do meu imaginário crítico.

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Bernardo Carvalho, autor de Nove noites e Reprodução, usou a sua coluna no blog do Instituto Moreira Salles no último dia 18 para dissecar o processo crítico reinante nos meios literários. O exemplo dado por Carvalho tem uma resenha de The Burried Giant, livro mais recente do autor japonês Kazuo Ishiguro e ainda não publicado por aqui, como parâmetro para compor um assolador cenário atual.

O texto de Michiko Kakutani, crítica do “The New York Times”, é usado como modelo (no mau sentido) do resenhista preguiçoso, sentado confortavelmente sobre blocos de lugares-comuns. “ A previsibilidade da crítica de Kakutani salta aos olhos. É uma crítica que se poderia fazer sem ler o livro, a priori, por preconceito; uma crítica incapaz de sujar as mãos e de arriscar um milésimo da reputação que Ishiguro”, protesta.

É como escreveu José Roberto Torero, como nem sempre os livros são lidos por completo “os resenhistas têm que lançar mão de vários truques para compor seu texto”. Essa é, antes de tudo, a forma errada de fazer crítica, jornalismo ou qualquer outra coisa.

Paternalismo

A resenha de Terron não é elogiosa a Murakami e não deixa dúvidas de que o livro foi um fardo a ser carregado. Por mais que 1Q84 não seja a obra-prima do autor, compará-lo aos romances vendidos em bancas de jornal chega a ser crueldade. Imagine Kafka à beira-mar ao lado da saga de Sabrina.

A situação é crítica (perdoem o trocadilho): o paternalismo é incapaz de se dissipar do perigo de arranhar um escritor consagrado. Ninguém parece ter notado que Sábado, de Ian McEwan, estava muito aquém do que poderia se esperar. Quem teria coragem de macular o enfadonho relato de Samarago em Viagem a Portugal? Mas não pouparam António Lobo Antunes pelas baixas vendas de seu último livro em solo lusitano.

Da mesma forma, é revoltante ver um autor estreante ser massacrado pela crítica por não ter o endosso de todo um sistema. Isso explica o porquê não se formam mais leitores por meio das críticas e resenhas. No entanto, é interessante lembrar que uma crítica de Drummond sobre Vinicius de Moraes ajudou o Poetinha ser quem foi.

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