Ele tocou com Louis Armstrong e Count Basie na Paris dos anos 20 e 30 – e em Londrina, Cornélio Procópio e Santo Antônio da Platina nos anos 50. Foi um dos que passaram pela Europa deixando o som que agitava a América no começo do século 20. Um som chamado jazz. Buca não parava. Se parasse não ia parar em Buenos Aires e de lá aterrissar no Norte do Paraná. Em 1933 estava com a orquestra de Lucky Millinder na França, onde ficou por quatro anos. Ele conheceu Romeu Silva que o levou a bordo do Siqueira Campos para o Brasil – Pernambuco e Bahia. E, finalmente, Rio de Janeiro.

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Buca tocou no Cassino da Urca, foi amigo de Pixinguinha e de Jorginho Guinle. Mas o espírito inquieto o levou para longe mais uma vez, Argentina e Uruguai. E a cocaína não o ajudava a ficar em lugar algum. Chegou ao Norte do Paraná em 1949. Em 1950 estava em Londrina. Tocou em bordéis caros e outros baratos cheios de mulheres caras. O Norte do Paraná tinha dinheiro para sustentar qualquer fantasia. “Clubes de jogo e jogadores são os mesmos em qualquer lugar e em qualquer hora. Mas, oh meu Deus, como eu detestava aquele esporte. O diacho é que ele tirou a minha fome muitas vezes”, confessou Buca.

No lugar cheio de plantadores de café pagavam as mulheres e pagavam Buca. Era o que tinha. Foi o que sobrou para Mestre Buca, como era chamado nas bocas da cidade. Ali todos os homens usavam botas e chapéus de abas largas. Quanto às mocinhas, eram mocinhas de cabaré, na maioria de São Paulo. Eram mocinhas que não combinavam com a rústica arquitetura dos bordéis. Mas ninguém foi lá para apreciar arquitetura e sim para se divertir. Buca disse: “Eu me tornei muito popular. Eu fiz até um número especial que inventei naquele momento chamado Pistol Packing Mamma, em homenagem a todas aquelas pistolas penduradas na parede. Eu tirei a parte de cima de meu saxofone, parecendo uma pistola e também coloquei um chapéu de abas largas, imitando um cowboy de minha terra, mas homenageando os cowboys do lugar”, disse.

O resultado foi fenomenal: “As pessoas morriam de rir de meu número maluco. Foi tudo ótimo. E até o patrão, que nunca ria, também riu. Depois do número, um boogie woogie, o emprego era meu com certeza”. Era o Norte do Paraná cheio de lama e de gente estranha. Buca não ligava: “Eu estava ganhando em Londrina o mesmo dinheiro que ganharia em São Paulo”. A única diferença era que ali naquele bordel ordinário não havia roupas enfeitadas, nem uniformes especiais. E as pessoas o convidavam para sentar e beber com elas. “Eu gostaria de acrescentar que apesar de aquele lugar ser o fim do mundo, sempre havia um bom uísque importado da Inglaterra. E não era falso”.

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O diacho era que isso não tinha importância. Em Londrina Buca trocou a cocaína pela cachaça. E não trocava a cachaça por uísque, por melhor que fosse. Ele não fazia o mesmo efeito. A coisa era assim: “Eu tomava uns quatro ou cinco goles de cachaça e depois voava para o meu instrumento e tocava um solo que era apenas para mim embora todas aquelas pessoas pensassem que fossem para elas.” E foi assim que Buca passou pelo Norte do Paraná e poucas pessoas viram – ou ouviram. Um mestre que virou um anônimo genial. Buca tocava a vida e deixava sons, no seu caso, solos nos céus e pegadas no solo. Claro que sempre tem alguém para dizer: “Oh boy, você está me enrolando!”.

Mas eu digo: estou falando do grande Booker Pittman! Que nasceu em 1909, filho de Portia Pittman e neto de Booker T. Washington. Tão maluco quanto talentoso. Ele tocou um solo no céu da cidade enquanto o seu soul mergulhou na cachaça. Foi parar em prostíbulos cheios de fazendeiros endinheirados. Mas a cachaça fez estragos, ele decaiu e pintou paredes de puteiros em Cornélio Procópio e Santo Antônio. Uma noite, quando o julgavam morto, ele tocou num show de Armstrong em São Paulo e conheceu Ofélia. Ele voltou para o Rio de Janeiro e viveu mais algum tempo. Buca morreu com 60 anos, em 1969, longe do Norte do Paraná.

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