O que será que o Paulão anda aprontando? O termo é exatamente este porque é assim que os amigos lembram dele. O cara era uma figura, tremendo de um sarrista e o rei da manipulação. Era um mestre quando se tratava de se esquivar de algum comentário carregado de humor ácido sobre alguém, o qual invariavelmente o autor era o próprio. Nascido em Pernambuco, Paulão trabalhou como digitador da Tribuna até 2006, quando se aposentou e sumiu. Dizem que foi morar com a irmã, em Guaíra, e nunca mais deu notícias.

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Mas sua passagem pela Tribuna, na época da redação das Mercês, ficou marcada. Quem o via no trabalho com o semblante sério, digitando muitas palavras por minuto, não fazia ideia de quem se tratava. Mas era só ter oportunidade que o Paulão pegava pesado. Nos banquetes que rolavam na redação em comemoração ao aniversário do jornal, Paulão não dava folga para os comilões. Fazia comentários de modo que a pessoa percebesse que era dela que estava falando e a “vítima” acabava rindo junto, como único remédio.

Na época de pagamento quando o vendedor de queijos baixava por lá, Paulão deitava e rolava. Se aproveitava da boa vontade do rapaz, que oferecia prova de seus produtos para todo mundo. O Paulão não deixava escapar nada: atacava os embutidos e a enorme variedade de queijos. Quando perguntavam se ele ia comprar queijo, respondia com a maior tranquilidade: – Não vou comprar mais, já comi bastante. Agora vou tomar uma lá no Flicks!

Era de rolar de rir. O vendedor não ficava no prejuízo, porque no cômputo geral conseguia desovar um bom volume de produtos com o restante do pessoal. E no mês seguinte a situação se repetia. Quando o bicho pegava para o lado dele por só atacar o lanche dos outros, sem nunca comparecer com nada, saía pela tangente: – Aqui impera a lei do mais forte!, dizia entre risos.

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E no futebol, então era uma perdição. A maioria era de “grossos”, sem nenhuma intimidade com a pelota e o Paulão tocava o horror, fazendo comentários desairosos sobre as jogadas dos bolas murchas. Virava tudo em risos. Quem queria jogar sério se aborrecia. E depois do “jogo”, aqueles que ficavam trocando ideias com o Paulão recuperavam todas as calorias e ganhavam mais algumas com as cervejas e porções que rolavam a tarde inteira.

Paulão foi chamado muitas vezes de cara de pau, mas ganhou o apelido de “cara de ferro” por causa de dois episódios em passeios organizados pela turma do jornal. Em um deles, o desafio era percorrer de Castro a Curitiba de bicicleta, via Estrada do Cerne. Metido a atleta – era faixa preta de caratê -, Paulão encarou a parada, mas sofreu um acidente sério. O garfo da bicicleta quebrou e ele foi de cara no chão. Felizmente, fora as escoriações não teve consequências mais graves.

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Em outra ocasião, quis dar um mergulho daqueles de cinema, em São Luiz do Purunã, atendendo o pedido da irmã e da galera. Pulou do alto de uma pedra e achou outra ao aterrissar. Deu um susto em todo mundo, mas que nada. Parece que o Paulão estava em dia com o anjo da guarda. Com exceção do corte, saiu ileso e no outro dia já fazia piada do acontecido.

No dia que se despediu dos amigos do jornal, não quis saber de ficar com a fama de pão duro e sanguessuga. Patrocinou bolos e refrigerantes para toda a galera. Mas nem assim perdoaram o Paulão e pregaram-lhe os famosos “chifres” na hora da foto. Saiu barato pelo tanto que ele aprontou por lá.

* Miguel Ângelo de Andrade publica a coluna ‘Pelas ruas da cidade’ durante as férias de Edilson Pereira.