Eu ganhei um cartão postal de uma amiga chamada Viridiana Hallstein. O postal é antigo, mas a dona é nova. Ele foi originalmente enviado de Nova York em 9 de setembro de 1917 para Miss F. Lichesley, que morava na Rua Ratcliff, em Curitiba. Do outro lado do cartão, uma bela ilustração do The Metropolitan Building que existe até hoje, mas sofreu mudanças no projeto por conta da Grande Depressão de 1929. Eu presumo que poucos saibam onde ficava a Rua Ratcliff. Ela existiu no começo do século passado até seu nome mudar para a atual Rua Desembargador Westphalen. Claro que a mudança de nome homenageou Emygdio Westphalen, lapeano que se destacou na vida pública do estado nos séculos 19 e 20 e morreu no dia 17 de março de 1923.

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No entanto, para homenagear Westphalen cassaram a homenagem a Ratcliff, que foi um inglês dono de comércio na rua que levava o seu nome. Pelo menos foi o que soube. Esta prática é comum no Brasil. Mudar nome de rua, retirando homenagem feita para outra personalidade ou instituição. A Rua da Assembleia mudou para Dr. Muricy e a Rua da Misericórdia passou a se chamar André de Barros. A Rua da Liberdade, que belo nome, virou Barão do Rio Branco. A Rua XV se chamava Imperatriz. Os exemplos são muitos. Até hoje ninguém sabe se o Bigorrilho se chama Champagnat – ou vice-versa. Assim como o Mossunguê virou Ecoville, embora qualquer motorista de táxi saiba onde fica o Mossunguê. E a região da Praça da Espanha está virando Soho Batel. Quem diria?

Estes surtos criativos atingem não apenas Curitiba, mas o Brasil afora. Caso histórico é o de Nossa Senhora do Desterro, a ilha que resistiu a Floriano Peixoto, que mandou tropas para reprimir a capital catarinense. Hercílio Luz, que virou nome de ponte, teve a pachorra de homenagear o Marechal de Ferro, que ferrou com a cidade, dando o nome do repressor para a capital. Até hoje tem gente que chama Florianópolis de Ilha do Desterro só de pirraça, ou de Floripa, para tirar a pompa. No Paraná temos Iroi perto de Maringá que passou a se chamar Presidente Castelo Branco. O nome é quase maior que a cidade. E Nova Dantzig, perto de Londrina, passou a se chamar Cambé, por conta da Segunda Guerra Mundial.

A guerra foi pretexto para Getúlio Vargas mandar mudar nomes de clubes e times. Foi uma de suas contribuições na luta contra o Eixo. Os Palestras Itália em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba passaram a ser Palmeiras, Cruzeiro e Paranaense – o time de Curitiba ficou tão desorientado que mudou o nome mais duas vezes para Comercial e Palmeiras. O Novo Hamburgo no Rio Grande passou a ser Floriano – ele de novo! O Germânia em São Paulo virou Pinheiros. E teve outros casos. O hábito também atinge estádios de futebol. O Estádio Belfort Duarte mudou para Couto Pereira para homenagear um dirigente do clube, mas retirando a homenagem feita a outro sujeito também merecedor.

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Eu acho desnecessárias mudanças de nomes de ruas, praças, cidades, clubes. Algumas são até desrespeitosas e tolas. No final do governo Jaime Lerner, ele acelerou as obras do museu para inaugurá-lo antes de seu sucessor, Roberto Requião, assumir. Lerner terminou e batizou de Novo Museu. Requião assumiu e rebatizou de Oscar Niemeyer. E ainda foi esperto. O primeiro nome não homenageava ninguém e quanto ao segundo ninguém seria besta de contrariar – nem Lerner, que projetou e executou a obra. Coisa de louco! A não ser em casos especiais, quando se descobre que o homenageado foi sujeito sem honra, assassino, despudorado e o seu nome constrange pessoas que moram nestes logradouros, não deviam mudar nomes de ruas. Além de desrespeito e tolice, denota falta do que fazer de quem se propõe a tal atividade. Se estas ruas fossem minhas, eu não mudava os nomes. Além de manter a tradição, em alguns casos evita confusão.