O vereador José Carlos Chicarelli (PSDC) quer multa municipal para os clientes dos travestis que ficam no Rebouças e no Boqueirão. A preocupação dele é tão grande que ele pede melhoria na iluminação, poda de árvores, fiscalização e até adoção de bafômetros. Tudo isto para evitar que o cidadão que sair embriagado do bar, não leve para cama um travesti, achando que é uma gata com a cara da Elizabeth Taylor. Engodo que vai descobrir apenas na manhã seguinte quando acordar abraçado com um sujeito que parece lutador de MMA e que fala mais grosso que capitão do exército.

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É tanto empenho do vereador, que tem gente achando que Chicarelli andou se dando mal em uma destas noites depois de sair de um bar. Maledicência, claro. Provavelmente não foi isso. Mas é a velha história, não é só o Chicarelli que está sujeito a ser enganado por uma tremenda loira depois da meia-noite – ou uma tremenda morena. No começo dos anos 70, uns amigos foram para uma boate chamada Marrocos na saída de Maringá. Naquele tempo o pessoal aprontava para os amigos e eu fiquei alerta. Primeiro não bebi. Na boate, havia uma tremenda morena de olhos verdes de olho no grupo. Achei que tinha coisa errada. Quando o milagre é demais o santo desconfia. Não era preciso ser muito esperto para saber que era uma dama de espada – ou dama de paus.

Fiquei na minha. Mais quieto que tatu no buraco. Um amigo chamado Gilberto, que já estava no terceiro uísque, olhou a morena, limpou os beiços e disse: ‘Deixa comigo!’. Ele foi. Gostou da morena. Dançou com ela e ainda piscava para o nosso lado, para sinalizar que estava abafando. Ele voltou para pedir dinheiro emprestado, porque ‘a coisa rolou’. Ele ia passar a noite com ela. Eu nem me mexi: sabia que se emprestasse dinheiro, ele não ia me pagar depois de descobrir que fora enganado. Mas os outros emprestaram para ver o que ia acontecer. Gilberto foi por um corredor e meia hora depois voltou mais assustado que aquele cara que viu o Tiranossauro Rex no filme Parque dos Dinossauros.

Assustado, furioso, humilhado e ofendido. Furioso porque percebeu que os amigos não o avisaram; humilhado, porque a dona não era morena. Aliás, nem era mulher. E assustado e ofendido, porque o sujeito depois que tirou a roupa revelou possuir uma tromba de elefante assustadora. Gilberto pagou o couvert artístico para a dona que se chamava Michelle Monroe. Se não pagasse, levava cacete. Mas ele teve sorte. Podia acordar no dia seguinte e descobrir que fez coisas das quais nem se lembrava. Como um amigo, jornalista, oito anos mais tarde, em São Paulo. Ele bebeu todas, grudou uma dona numa boate dos Jardins, levou a dona para casa em Pinheiros e quando acordou no dia seguinte ele descobriu que melão não era jaca. E que banana não era maçã. Ele nem soube o que fez na noite anterior.

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Mais: o experiente Romário encontrou em dezembro de 2013 numa boate carioca um broto lindo chamado Thalita Zampirolli, de 24 anos. Capixaba coisa mais linda. Saiu da boate de mãos dadas com a gatinha. Romário é malandro e encara até a Fifa. Mas a gatinha morena de corpo escultural era homem. Foi, porque extraiu a genitália masculina aos 18 anos. Thalita garante que namorou Romário por um ano. Por esta e outras a gente vê que o caso é mais complexo que Chicarelli imagina. Quem não se lembra do caso de Ronaldo, o Fenômeno, que em 2008 botou três travestis de uma vez só no carro e foi se divertir? Não foi por engano.

Então, ir atrás de travesti não é só coisa de bêbado. Tem que goste. Se um conhecido do vereador entrou em fria, não se pode generalizar. Um exemplo: nos anos 80, o cantor e compositor Erasmo Carlos se encantou com Roberta Close, um travesti e depois transexual, que até fez uma canção para ela. Aliás, um caso que provocou desajuste conjugal irreparável na vida do cantor. De qualquer maneira, como estamos entrando no Carnaval, fica aí um aviso do vereador Carlos Chicarelli: não exagerem na bebida. Mas se beber, tome cuidado para não dançar. Na pior das hipóteses, confira os documentos. 

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