Que tal umas previsões locais para variar?

Já pensou se entre os inúmeros videntes e outros que se dizem com poderes de enxergar o que vai acontecer no ano que já bate na nossa porta, um deles decidisse mirar o seu “dom” sobre o que pode ocorrer aqui na nossa cidade e Estado? Talvez fosse o mais requisitado já que a sua antena iria até os limites territoriais da terra das araucárias, tudo o mais seria desprezado, exceto no caso de uma hecatombe mundial.

As questões paroquiais iriam fazer nosso guru gastar a bola de cristal. Uma delas seria obrigatória, imagino: os ônibus. Teremos ônibus em Curitiba em 2014? Foram tantos solavancos em 2013, não tanto pelos buracos das ruas e das obras que se arrastam por meses e anos, mas pela falta de dinheiro pura e simplesmente. Faltou até o sagrado 13.º para uma parte dos trabalhadores do sistema, sem contar as outras greves pontuais por atraso no pagamento de alguns dias. O problema de caixa será sanado nas empresas de ônibus? Nosso guru iria tossir e gaguejar para responder essa.

O problema é que fica cada vez pior. E as viaturas da polícia terão gasolina? Puxa vida, que coisa! Mas nem a Petrobras a tem, depois da explosão seguida de incêndio na Repar. O incidente que a estatal considerou como de pequena monta provocou até importação de combustível.

Mas o povo quer saber se poderá contar com a polícia em 2014. O guru iria suar frio nessa porque nem só de gasolina e diesel especial vivem as vistosas viaturas policiais. Elas precisam cumprir o cronograma de revisões, caso contrário perdem a garantia. Assim, só oficinas autorizadas podem fazer reparos, mas estas cobram uma conta alta que ainda estaria pendente. E mesmo que as viaturas estejam em ponto de bala, os policiais precisam de certas condições para trabalhar, como a regularidade das refeições nos quartéis. Até isso esteve em xeque em 2013. Despensa cheia em 2014?

Passemos aos presídios e carceragens da cidade sorriso. Continuarão sendo um paiol de pólvora ou a paz reinará absoluta? Nosso guru precisa levar em consideração que será ano de Copa do Mundo. Pega mal estourar rebeliões com os gringos desfilando pela Rua XV. Isso considerando que a Arena da Baixada ficará pronta a tempo de a pelota rolar por lá. Em 2013, os trabalhadores tiveram que cruzar os braços para forçar o depósito dos pagamentos.

E os táxis? O curitibano quer saber se vai conseguir usá-los em 2014 sem ter que ficar longo tempo esperando. E sem ser discriminado se vai pagar com cartão e fazer uma corrida curta. Não são todos que fazem isso, mas para os que usam esta prática, seria mais justo estipular uma quilometragem mínima para sair do ponto e assim não deixar os usuários plantados. Com as novas placas, este problema se resolveria? O assunto é de embaçar a bola de cristal do nosso guru.

Mas vamos ao teste de fogo para o nosso guru, o atraso das obras. Algum milagre fará o padrão japonês de eficiência aportar por aqui? No Japão, em dois anos o país foi reconstruído após ser atingido por um tsunami devastador. Ganhou das obras de Fredolin Wolf, que levaram três anos para serem concluídas. E empatou com o desalinhamento das estações-tubo que já consumiu um biênio.

Será que nosso guru conseguiria vislumbrar algum presságio para estas questões? É provável que não e ao fim de uma sessão dessa já estaria com saudade das inofensivas previsões sobre aquela famosa atriz que terá um bebê, a seleção de Felipão levantando a taça do hexa e o Brasil se firmando como potência econômica. Muito mais simples e pelo menos com algumas destas coisas dá até para sonhar.

* Miguel Ângelo de Andrade publica a coluna ‘Pelas ruas da cidade’ durante as férias de Edilson Pereira.