Existem dois tipos de taxistas: os que querem enganar o passageiro e os que são bacanas. Sinceramente eu não sei qual é mais numeroso. Mas existem os dois tipos. Não tem nada mais agradável que pegar um táxi dirigido por um motorista bacana. E não tem nada mais angustiante que pegar um dirigido por um motorista sacana. No final do ano passado eu vim de Foz do Iguaçu e peguei o táxi de um japonês que fez uma corrida lentamente escandalosa: era de manhã, a cidade estava vazia e o sinal estava verde, mas ele ia bem devagar pelas ruas e avenidas torcendo para o sinal fechar – e o final fechava, claro. Eu saquei a estratégia que ele desenvolveu para me surrupiar uns trocados e prometi a mim que não ia perder a estribeira. No entanto, meu filho de 25 anos quase teve um enfarte de angustia e raiva. O japa fingia que a coisa não era com ele.

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No final da corrida ela ficou 5 reais mais cara, que em ocasiões anteriores. Eu não gostei e depois que entrei em casa fiquei pensando se valia a pena correr o risco de ter um infarto por causa de 5 reais – se fossem 8 mil reais, ai a coisa seria outra. Mas eu me vinguei bonito na hora de pagar. Tirei uma nota de cinquenta e ele disse que não tinha troco, torcendo para eu arredondar a corrida para 30 ou 40 reais e ele levar mais algum. Mas eu disse tudo bem, enfiei a mão no bolso, saquei todas as moedas que eu tinha. Depois enfiei a mão na pasta e peguei todas as moedas que eu jogava num saquinho, para o caso de o cobrador do ônibus não ter troco e eu facilitar a coisa para ele. Eu peguei vinte e oito reais em moedas. Aquilo dava quase um quilo de dinheiro. E paguei o japa.

Se eu o tivesse chamado de bakayarou, ele não teria ficado tão ofendido. Quase que ele me disse: “Omae wa saidai no baka da!” E se ele dissesse eu sabia muito bem o significado da expressão. Mas ele se enfureceu de tal forma que quando eu desci ele deu uma arrancada tão violenta que quase levou meio metro de asfalto – a arrancada foi violenta e o asfalto na frente da minha casa é de qualidade muito ruim. E eu fiquei olhando o taxi dele pela primeira vez desde que o conheci, há poucos minutos, finalmente mostrar que tecnicamente tinha capacidade de rodar pela cidade mais que 28 quilômetros por hora que ele fez do centro da cidade até em casa. E quando entrei em casa, meu estresse tinha ido embora. Eu estava agora pensando nesta coisa que acontece muito em nosso país: ironicamente os brasileiros, principalmente no comércio em que elas são mais usadas, não gostam de moedas.

Muitos cobradores de ônibus não gostam. Há alguns anos, meu amigo Taquara – que tem dois metros de altura – pegou um Barreirinha na Anita Garibaldi, deu nota e o cobrador disse que não tinha troco. Virou uma muvuca, até alguém trocar o dinheiro e acabar com a celeuma. O cobrador ainda assim ficou de bico virado. No dia seguinte, Taquara voltou ao mesmo ponto e esperou o Barreirinha chegar, com o mesmo cobrador. Ele pagou a passagem com um saco de moedas de 1 centavo. O cobrador olhou furioso para Taquara, pegou o saco de moedas e jogou pela janela. De novo a muvuca se armou, mas desta vez o cobrador percebeu o princípio de revolta popular no busão e não engrossou. E Taquara passou pela catraca. E na calçada ficou aquele monte de moedas de 1 centavo esparramadas.

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Estranho que muitas pessoas veem nas moedas não uma unidade financeira destinada a nos ajudar no pagamento de pequenas importâncias. Elas se sentem ofendidas de terem de pegar uma expressão monetária que consideram irrelevante. Como se quisessem se livrar de algo sem valor. Eu sempre me lembro do exemplo de Patinhas McPato, também conhecido por Uncle Scrooge, que ergueu um dos maiores impérios financeiros dos Estados Unidos a partir de uma única moeda de pequeno valor. Mas muitos brasileiros, talvez não afeitos à ética do trabalho, como sentenciou Max Weber, se enfurecem com as moedas.