O velho cafajeste e o broto assanhado na Tiradentes

As garotas de Curitiba não emendam conversa com estranhos, embora sejam atenciosas. Toda vez que pedia horas para uma garota bonita, só para ouvir a voz dela, foi bem atendido. Mas, naturalmente, é o tipo de coisa que não vai além da informação. Em alguns casos ele se sentiu cafajeste, porque a garota abria a bolsa para tirar o celular e ver as horas, no maior empenho. Este hábito causou certa confusão em sua mente. Muitas vezes ele perguntava as horas porque queria saber. Mas quando isto acontecia, ele perguntava para uma mulher feia ou para um homem: vai que perguntasse para uma garota bonita e ela pensasse que ele queria saber se a voz dela era de um timbre agradável? Ele estaria ferrado. Neste caso, ficaria sem as horas.

E ele sabia: as horas são importantes – é terrível ficar sem horas quando a pessoa precisa. Portanto, foi com surpresa que se deparou na semana passada na Praça Tiradentes com uma situação nova – a garota fez o que ele fazia. Ele ficou constrangido. Ele percebeu que ela não queria saber as horas, mas puxar conversa. Ele pensou: ‘Será que as garotas sabiam que eu não queria horas e apenas ouvir a voz delas?‘ A dúvida. Nada pior que uma dúvida – nem dor de dente é tão ruim. Ele olhou o relógio na Catedral na sua frente e disse: ‘São cinco minutos para as sete‘. Ela sorriu: ‘Como é que o senhor sabe?‘ Ele apontou o relógio da igreja e disse: ‘Eu olhei lá em cima‘.

Ela ruborizou quando olhou para aqueles dois relógios enormes cada um no alto de uma torre da Catedral. Ela disse: ‘Desculpe, mas eu sou desajeitada!‘ Ele se sentiu no lugar da garota e pegou leve. Tentou ser elegante à moda de Philip Marlowe: ‘Não seja modesta, querida, você é ajeitada até demais‘. Ela gostou e disse: ‘O senhor é engraçado‘. Por um instante ele ficou em dúvida sobre a que senhor ela se referia, àquele com S maiúsculo ou ao da praça com s minúsculo. Era uma garota modesta: era ao da praça. Ele perguntou o nome e ela disse que era Diovana. A velha história: a mãe chegou com mania de americana para o escrivão que não vacilou: escreveu o que ouviu. Era para ser Giovanna. Com dois n.

Diovana era morena, bonita, jovem, magra. Ele estava velho, mas a sua cafajestice estava nova. Ele disse: ‘Você está com tudo em cima, garota!‘ Ela riu. Ele emendou: ‘Quantos anos têm?‘. Ela: ‘Dezessete‘. Ele pensou: uma criança. E jogou um verde para colher um maduro – não o da Venezuela, claro! ‘Teu namorado deve ser um cara feliz, meu bem!‘ Ela surpreendeu: ‘Sou casada‘. Uma menina de dezessete anos casada! O mundo corre mais rápido que Ferrari em Monza. Ela olhou maliciosa: ‘Adivinha quantos ele tem?‘ Ele mandou outra pergunta: ‘Não vai dizer que é mais novo?‘ Ela respondeu: ‘Nada, bobo! Deve ter a tua idade. Quarenta e cinco‘.

Quarenta e cinco é um bom calibre. Ele gostou de ouvir porque tinha sessenta e dois. Um sessentão passando por quarentão não era nada mal. Para não perder o embalo, mas ser honesto, disse: ‘Tenho alguns meses a mais que teu marido, meu bem!‘ Ela contou que estava há oito meses com o cara, mas se entediou – noite passada dormiram em quartos separados. Ela se sentia passarinho na gaiola. ‘Ele é muito ciumento‘. O velho disse que se estivesse no lugar do cara também seria. Talvez mais. Ela riu. Diovana disse que a liberdade é importante e ele respondeu que ela estava certa. Mas alegou que ela estava com um cara experiente e a experiência é fundamental hoje em dia. Pelo menos era sua teoria.

Ele percebeu que Diovana se animava. Era uma garota marota e procurava encrenca. Ela perguntou: ‘Você quer o número do meu celular?‘ Ele foi honesto, tão quanto Philip Marlowe: ‘Desculpe, querida, mas não tenho celular‘. Era verdade. Ela pensou que ele mentiu. E ficou desapontada. Mulheres não gostam de mentirosos. Ele achou melhor. Não estava em idade de ser morto por um coroa ciumento. Estes caras costumam dar mais que dois tiros. E cada um, pela experiência dele, doía pra caramba. Ele perdeu Diovana. Mas não foi nada.