Quando vou a Ponta Grossa sempre vejo gaviões na beira da estrada. Ficam à espreita de que algum animal seja atropelado ou para caçar roedores que são atraídos pelas plantações das numerosas fazendas que existem na região.

continua após a publicidade

A espécie que vejo de relance com o carro em movimento é o Gavião Carcará, considerada a águia brasileira. O bicho é imponente: tem cerca de 60 centímetros de altura e no alto da cabeça as penas pretas dão a impressão de ser um solidéu, que lhe confere um ar mais invocado ainda.

Sempre que vejo estas aves de rapina, penso na falta que elas fazem em Curitiba. O gavião é o predador natural do pombo e como podemos ver nas ruas da cidade, Curitiba não sabe o que fazer com estas aves. Há uma população numerosa deles, principalmente nas praças e parece que já é senso comum que dividir espaço com este bicho é se expor ao risco de doenças. São listadas pelo menos 26 moléstias que seriam transmitidas pelos ‘ratos de asas‘, dentre as mais graves estão doenças respiratórias como Ornitose e Histoplasmose (infecções pulmonares), além da Criptococose, que provoca uma inflamação no cérebro.

Quando a gente percebe o quê um aparentemente ‘inofensivo‘ pombo pode causar, pensa logo em recrutar uma esquadrilha de gaviões para habitar as praças da cidade. Quer controle biológico mais perfeito do que esse? Mas quem garante que os gaviões iriam se contentar só com os pombos no cardápio? Eles com certeza atacariam os simpáticos sabiás, joões -de-barro, bem-te-vis e não tardaria para que ONGs promovessem um ruidoso ‘Fora, gaviões‘. Sem contar que é bem possível que os próprios gaviões se tornassem  transmissores de doenças ao trocar as matas pelo meio urbano. 

continua após a publicidade

Os vereadores de Curitiba já perceberam o filão que o assunto pode render e se ocuparam dele. Já foram aprovadas propostas de campanhas educativas e de controle dos animais, nenhuma levada a cabo. A última investida foi a do vereador Zé Maria, que pede que os bichos sejam capturados, desverminados, esterilizados e devolvidos ao meio ambiente.

A proposta não deve emplacar porque o Centro de Zoonoses considerou-a impraticável. O Tendão de Aquiles do projeto do vereador é que não dá para desverminar o pombo e soltá-lo porque no instante seguinte ele já estará contaminado novamente.

continua após a publicidade

Outro argumento do Centro de Zoonoses é que a transmissão de doenças pelas fezes do pombo só acontece em condições favoráveis, como umidade, local escuro e fechado, ambiente que não se reproduz nas praças. Há controvérsias porque em Curitiba o sol é raro, todos são testemunhas, e a chuva por aqui é constante tanto, que ninguém tira o guarda-chuva da mochila.

Com os gaviões fora de questão e extermínio o Ibama não quer nem ouvir falar, sobra para os curitibanos a conscientização de não alimentar os pombos. Nada de jogar pão velho para eles, fazer montinhos de quirera ou dar o milho da pipoca que não estoura. Os bichos sabem se virar sozinhos para comer. E não se preocupem porque se o alimento for escasso eles tratam de se mudar para locais onde ele seja abundante e aí resolvem o nosso problema e o deles ao mesmo tempo.

* Miguel Ângelo de Andrade publica a coluna ‘Pelas ruas da cidade’ durante as férias de Edilson Pereira.