O pecado acabou com o templo do pastor Jucimar

Eu vi o pastor Jucimar vendendo sorvete perto do Museu Oscar Niemeyer num domingo destes. Ele estava sério, não me viu e aproveitei para descer a rua e entrar num pequeno portão do Bosque do Papa e por ali atravessei a área e ganhei a Rua Mateus Leme, onde peguei um ônibus e fui embora para casa. A visão do pastor vendendo sorvete não chegou a surpreender. Foi cruelmente inesperada. Vender sorvete é uma atividade como outra, mas eu percebi que o pastor estava envergonhado porque sua atividade anterior era mais rentável e o colocava num patamar profissional mais elevado. Eu acho que ele se sentia como um sujeito que foi gerente de mercado e estava trabalhando de caixa – ou seja, recomeçando por baixo.

A última vez que soube de Jucimar, antes daquele domingo, ele estava com um templo bem equipado no Boqueirão que rendia grana boa. Ele tinha um bordão: “Não brinque com as coisas do Senhor! Não faça nada do que você pode se arrepender!”. Que no fundo não passa de simplificação dos dez mandamentos – ou, talvez, tradução dos sete pecados capitais. Por isso, enquanto eu ia para casa pensei que se Jucimar estava vendendo sorvete depois de tudo o que acumulou, ele andou brincando com as coisas do Senhor. Esta foi a minha dedução.

No domingo seguinte eu voltei e o reencontrei. E não resisti em perguntar o que tinha acontecido. Ele me enrolou. Para não dizer que ele não falou nada, ele contou que estava voltando para Cambará, no norte do Paraná, onde pretendia recomeçar a vida, “com outra cabeça”. E, claro, com novo templo, que a atividade de vendedor de sorvete era temporária. Ele nada mais disse e nada mais foi perguntado. Quando eu me afastei, um sujeito se aproximou e quis saber se eu era amigo de Jucimar. Eu disse que o conheci. O cara se chamava Rômulo, mas era conhecido por Paraguaio. Ele era um desafeto de Jucimar porque entregou tudo.

Ele contou que o templo do Boqueirão estava indo de vento em popa, mas que “o chifre acabou com o negócio!” Eu pensei que ele falava simbolicamente do demônio. Ele disse que indiretamente sim, mas diretamente foi adultério. Na igreja de Jucimar havia muito adúltero e ninguém mais quis entrar para não ficar com fama ruim. E, desta forma, o templo teve que fechar as portas. Paraguaio disse: “A igreja do Jucimar faliu por causa disso”. Ele contou detalhes. Tudo começou quando o Jucimar voltou de uma pescaria que não deu certo e encontrou a mulher na cama com um irmão de fé. Os dois nem disseram: “Não é isto que você está pensando”. Porque era exatamente aquilo que ele estava pensando.

Jucimar não se apavorou e pensou no templo. Ele perdoou os pecadores, mas pediu para ficarem de bico fechado. Não adiantou. A mulher do cara que estava na cama descobriu e contou para todo mundo. A fama correu. O pastor era cornudo. Foi o primeiro abalo. Aí começou a epidemia: uma irmã casada ficou de olho em outro irmão casado e os dois fugiram. Um taxista frequentou a igreja de olho numa mocinha recém-casada. E a levou para um motel. Ela largou o marido. Paraguaio disse: “Este marido era eu”. E apareceram mais três casos, em pouco tempo. Eles chegaram ao conhecimento dos vizinhos que apelidaram a igreja de Jucimar de Templo dos Infiéis.

Resumo da ópera: por precaução, como ninguém queria levar chifre, ninguém foi ao templo do Pastor Jucimar. Agora ele ia para Cambará, com “outra cabeça”, porque aquela cheia de chifres e de problemas, ele não mais conseguia mais carregar. Ele disse que estava se sentindo humilhado. Ele confessou: “Eu vou voltar para o Norte do Paraná. Vou abrir um novo templo. E não vou perdoar nenhuma pecadora. Se elas querem safadeza, eu vou purificá-las com o meu cajado”.