O dia que Cabrini foi escoltado pelo coronel Taquara

O jornalista Roberto Cabrini apareceu em Curitiba em meados do ano passado com uma equipe para entrevistar Ratinho Massa para um especial sobre a vida do apresentador e empresário, que embora seja natural de Águas de Lindóia, teve carreira decolada a partir de Curitiba. O motorista da equipe paulista não tinha a menor ideia de como chegar às Mercês, na sede paranaense do SBT. Quando encontrou pela frente um veículo militar dirigido por um imponente, alto e respeitável sujeito fardado da cabeça aos pés, ele pediu informações. “Como a gente faz para ir para o SBT, oficial?”, indagou.

O militar em questão, com voz de Luciano Pavarotti, parou, olhou o grupo e disse com educação: “Eu conheço aquele moço ali. É o Roberto Cabrini”. O jornalista ficou lisonjeado com a referência, embora já estivesse acostumado. E ficou ainda mais honrado quando ouviu: “Eu tenho compromissos naquela área e vou escolta-los até lá”. Motorista, Cabrini e equipe ficaram espantados com tanta gentileza e camaradagem – na realidade, ficaram encantados. E seguiram o veículo militar de motor diesel, cambio 5 marchas, tração 4×4 reduzida, pneus 900/20, bancos de madeira, usado pelos americanos na Segunda Guerra Mundial.

O veículo atravessou a cidade e conduziu Cabrini e equipe em segurança e sem perda de tempo até a sede da TV Iguaçu, onde todos agradeceram o militar a sua atenção e gentileza. Cabrini perguntou o nome do militar e ele respondeu: “Taquara!”. O último a dizer alguma coisa foi o câmera que resolveu caprichar e emendou: “Obrigado coronel Taquara”. O militar esboçou um sorriso esperto e lisonjeado e respondeu: “Não seja por isso, garoto. Estamos aqui para servi-los”. E a equipe entrou agradecida no interior do prédio da emissora de televisão.

Lá dentro eles contaram que a viagem foi boa, mas que tiveram dificuldades quando entraram em Curitiba, pois não sabiam o caminho para as Mercês. Eles estavam indo para o lado errado quando encontraram um oficial cortês num veículo militar que os escoltou até a sede da empresa. “Coisa muito bacana. Coisa de curitibano que é um povo educado”, disseram. “O militar a que vocês se referem é o Taquara?”, perguntou um assessor de Ratinho. “Este mesmo, disse o câmera. O coronel Taquara!”. Foi então que explicaram que o coronel Taquara trabalhava de fotógrafo na Tribuna, não era militar e gostava de andar fardado para baixo e para cima.

Até aí, tudo bem. “Mas é aquele veículo do exército? Ele é roubado?”, indagaram já preocupados com alguma consequência ruim da escolta que receberam. “Não. Aquele carro é dele mesmo”, disseram. O pessoal ficou ainda mais confuso – eles não entenderam nada. Alguém explicou que Taquara comprou uma carcaça de veículo militar no Rio Grande do Sul e restaurou a coisa. E para o pessoal ficar tranquilo, disse que não era a primeira vez que confundiam Taquara com coronel. Uma vez Taquara chegou com seu carro militar em Castro, estacionou numa lanchonete e o dono foi muito gentil – até demais.

Ele disse: “O seu pessoal passou aqui segunda-feira”. Taquara deu um sorriso enigmático. Ele desconfiava que o pessoal que fazia trilhas por aí programou alguma coisa e não o avisou. Ele lanchou, bebeu refrigerante e na hora de pagar o dono da lanchonete disse: “Nem precisa, o teu amigo que passou aqui foi generoso com a gente. Esta fica por conta da casa”. Taquara pensou: “Além de não me convidar ainda deixaram o meu lanche pago, só de sacanagem”. Ele decidiu ir atrás dos caras: “Que direção aqueles filhos da mãe tomaram?”. O dono da lanchonete disse: ‘Ué, foram uns trinta quilômetros lá para frente fazer manobras. Tinha quatro carros iguais ao teu e dez caminhões cheios de soldados. Pode ir nesta direção que eles devem estar te esperando”. Taquara percebeu que era o pessoal do exército enquanto ele procurava o pessoal que fazia trilha. E caiu fora dali rapidinho antes que o exército o convocasse para dar duro nas manobras. Sem direito a pagamento.