O craque que não trocou o Pilarzinho pelo Botafogo

Houve uma época em que jogador brasileiro não pensava em Barcelona, Real Madri, Milan ou Manchester United, porque os melhores times do mundo estavam no Brasil. Mais precisamente em São Paulo e Rio de Janeiro. O Rio era ainda mais atraente porque lá estava o maior templo mundial do futebol: o Maracanã, que por muito tempo foi o maior estádio do mundo. E todo jogador do planeta sonhava em botar os pés no gramado do estádio cujo verdadeiro nome é Mário Filho, nem que fosse para ficar plantado no meio campo, olhando admirado para a torcida.

Nem falo que todo boleiro das antigas queria jogar no Botafogo, Vasco, Flamengo e Fluminense. Era o sonho. Para poucos. Para os predestinados. Já estava de bom tamanho jogar no América ou no Bangu, que tiveram times competitivos e campeões, no caso do Bangu mais vice que campeão. Portanto, o sonho de qualquer jogador em qualquer recanto do Brasil era ir para o Rio – ou São Paulo, que tinha o Pacaembu. De qualquer boleiro do Brasil, menos do Paraná. Por uma destas coisas curiosas, os boleiros paranaenses que se destacavam não se animavam em ir para os grandes centros, embora existam os casos de Rodolpho Barteczko, o grande Patesco e do grande Jackson Nascimento, o primeiro no Botafogo e o segundo no Corinthians.

O grande zagueiro Fedato refugou o Botafogo no final dos anos 40, embora tenha jogado pelo time de General Severiano numa excursão antológica. Ele preferiu o Coritiba. Boleslau Sliviany, o célebre Boluca, teve nos anos 50 proposta do Botafogo, mas na hora do pega para capar, preferiu seguir carreira de advogado. Boluca queria ir, mas naquele tempo a voz do pai tinha peso da voz de Deus, principalmente se Ele não desse pitaco no assunto. Sem contar o caso do Nilo Biazzeto, que foi seduzido pelo Botafogo, mas o goleiro Caju não deixou o amigo ir embora. Mas houve um quarto caso de boleiro que o Botafogo quis arrancar das Araucárias, mais precisamente do Pilarzinho e não conseguiu.

Trata-se de Izidoro Manoel Costa Pinto, falecido em 2008, um dos maiores craques que envergaram a jaqueta tricolor do Operário Pilarzinho Sport Club. Izidoro, também conhecido por Ize, era meia-atacante baixinho, habilidoso, driblador, técnica refinada. O homem desequilibrava. Todo mundo no começo dos anos 60 que via Ize jogar comentava: “O lugar de Ize é no Maracanã, entre os craques”. Mas Ize não dava bola. Na realidade, achava que o caminho até o Maracanã era mais longo que os amigos pensavam. E deixava para lá. Mas um dia o sonho ficou próximo, muito próximo. Na condição de jogador do Operário, Ize foi convocado em 1967 para a Seleção Amadora do Paraná atuar no Rio de Janeiro. Foi lá que os olheiros do Botafogo engordaram os olhos e disseram: “O lugar de Ize é no Maracanã”.

E quiseram levar o curitibano. Ele não foi. Ele não trocou o Pilarzinho pelo Botafogo e não trocou o campo do Operário pelo Maracanã. Para muitos foi um grande mistério. Mas tudo na vida tem explicação: Silvia, irmã de Ize, explica o que aconteceu. O que aconteceu foi que a Dona Dinorá, mãe de Ize, morreu e o pai, o Sr. Manoel Costa Pinto, achava que o momento era de a família ficar unida. Ele precisava mais de Ize na defesa da família do que no ataque do Botafogo. E Ize ficou. Continuou correndo pelos campos de Curitiba. Jogou no Vasquinho e depois voltou para o Operário.  Teve três filhos – Adilson, Aliocha e Adriano. Bons de bola. O primeiro e último jogaram no Operário. Adriano atuou pelo Rio Branco, Irati e chegou a ser chamado pelo Atlético. Estava no CT, mas uma noite escapuliu e foi para o Pilarzinho. Ele nunca mais pensou em futebol profissional. Como o pai, continuou correndo pelo Operário por muito tempo. Quem duvidar é só dar um pulo no Estádio Bortolo Gava no Pilarzinho e perguntar para qualquer um. Todo mundo sabe que Ize foi o craque. E que Adriano puxou o pai.