Não cuidamos direito sequer de nosso jardim

Eu tive um amigo na juventude chamado Ademar José Gevaerd. Ele é filho de um professor dos meus tempos de ginásio, o professor Gevaerd. Eu não o vejo há mais de trinta anos, mas sei que ele anda por aí. Mora em Curitiba. Eu me lembro dele em 1980 de andar firme na Avenida Mauá, em Maringá, indo na direção do jornal em que eu trabalhava, para falar sobre discos voadores e seus tripulantes, os seres do espaço. Ele acreditava – como ainda hoje acredita – que eles existem e também estão por aí. É normal em certa idade acreditar em coisas que as pessoas podem julgar bizarras, como este negócio de seres do espaço e discos voadores.

Em muitos casos as pessoas fazem uma correção de rumo e passam a se dedicar a coisas mais práticas – a olhar menos para o céu e mais para a terra. Gevaerd continuou firme em seus propósitos e hoje é um dos principais, se não o principal, ufologista do Brasil. Ele é escritor, faz revistas e conferências, quando não romarias a santuários – pontos em que seres do espaço estiveram numa data remota. A questão nestes últimos trinta anos deixou de ser curiosidade e motivo de piadas, para ser levada a sério. Cientistas investem cada vez mais na descoberta de planetas análogos ao nosso e que possa abrigar alguma forma de vida. São poucos, muito poucos, mas eles existem.

Claro que esta vida, a princípio, não seria exatamente igual a que conhecemos. Mas uma forma de vida que deve variar de acordo com as condições do planeta. Por enquanto, teorias. Sobre vida fora da Terra eu acho que a questão é ainda distante de ser avaliada como algo além de suposições, mas ela me parece existir ou pelo menos ter existido. Afinal, cientistas também chegaram à conclusão de que a vida na Terra de uma forma ou de outra veio do espaço há milhões de anos através de microrganismos em meteoros gelados, ou coisa parecida, e que aqui encontraram abrigo para se desenvolver e ao longo dos milênios foram se multiplicando, crescendo e se transformando naquilo que hoje, para variar, estamos tentando com certo êxito destruir.

Quanto aos discos voadores e seus tripulantes, sinceramente eu não tenho mais o que dizer, a não ser gravitar em torno de intermináveis suposições, evidências, pressupostos, depoimentos e casos até agora não publicamente comprovados. Há suspeitas e narrativas de que a inteligência e as forças armadas dos Estados Unidos já teriam botado a mão em restos de discos voadores e até de tripulantes que certamente tiraram a carteira de habilitação pelo correio, porque se esborracharam no solo de nosso planeta. Ouço muito e vejo pouco neste assunto. Não acredito, mas não duvido, porque na vida existem duas formas principais de trabalhar com as questões: ou a pessoa tem fé nelas ou as pessoas acreditam porque viu ou comprovou.

No entanto, há algo que eu não consigo entender. Nós temos um planeta tão bacana, tão raro existir um planeta como o nosso, isto já foi provado, pelo menos os cientistas estão tendo uma dificuldade grande para achar outro semelhante, e não cuidamos deste aqui. O que fazemos é dia a dia destruir ou deixá-lo doente e nervoso. Chega a ser irônico este desejo de alcançar planetas distantes no espaço e no tempo, alegando necessidade de um novo abrigo para a humanidade, sem que a Terra esteja com o seu ciclo para se encerrar. O planeta vai sobreviver a nós. E não cuidamos dele. Não cuidamos de nosso jardim e queremos florestas astrais que nem sabemos se existem. Sem contar que sou adepto da teoria do físico Stephen Hawking. Há algum tempo ele comparou o efeito sobre a humanidade de um contato com seres evoluídos do espaço a algo análogo ao contato dos índios com os europeus. Os índios somos nós. Ou seja, seria um massacre. O escritor Colin Wilson levou a teoria anos antes a algo assustador num livro chamado Vampiros do Espaço. Na dúvida, estou com eles – Hawking e Wilson. E acho que deveríamos cuidar melhor da Terra, o único planeta habitável que conhecemos. E tratar bem os seres vivos que ela abriga. Pelo nosso bem.