Maria Alice arrumou um amor espanhol pela internet

A minha amiga Maria Alice Nogueira chegou com papo de que arrumou grande amor na Espanha. Pela internet. Na hora pensei em Lucas Duarte. Um amigo jornalista que se deu bem em Barcelona. Hoje ele é editor de internacional do setor de comunicações do Futbol Club Barcelona, na Catalunha. Se ele se deu bem, por que a Maria Alice não poderia também? Foi a primeira pergunta que me fiz. Sem contar que hoje em dia muita gente arruma parceiros afetivos e até casamentos pela internet. Mas eu sou do tempo antigo em que namorar era como caça à raposa: jogo duro, corrido e cheio de manha; a presença física fazia parte do negócio.

Ao contrário de Genoveva, dona escolada que namorou mais de dez sujeitos pela internet e se tornou especialista. A primeira pergunta que ela fez foi: “Você conversa com ele pela Webcam?”. Maria Alice disse que não. Genoveva foi cruel: “Tem treta aí”. Ela disse que namoro pela internet é nebuloso, mas sem Webcam a coisa complica. “Qual o nome dele?”, perguntou Genoveva e eu já achei que ela pegava pesado com Maria Alice, que respondeu insegura: “Juan Victoriano Gonzalez”. Genoveva não parava de perguntar: “Quantos anos ele tem e de que província é?”. Maria Alice estava em pânico: “Ele tem 44 anos e é de Barcelona”. Eu me sentia constrangido de testemunhar a conversa.

Genoveva deu o golpe de misericórdia: “Mutreta, menina. Este nome é típico de Madri. É quase impossível um catalão com este nome”. Maria Alice não sabia que havia diferença entre madrilenho, catalão ou andaluz. Afinal, pelados deviam ser parecidos. Ela murmurou que o sujeito era bonito, dizia coisas bonitas e estava interessada nela. Mais: queria vir para Curitiba em junho. Genoveva botou as mãos na cintura: “Você perguntou o que ele quer fazer em Curitiba no mês de junho, querida?”. Maria Alice respondeu: “Claro! Ele quer me ver”. E para não deixar dúvidas quanto às intenções do seu galã, ela disse: “Ele até pediu para eu reservar um lugar em casa para ele passar um mês comigo”.

Genoveva riu um riso humilhante: “Eu aposto que você está caindo em algum golpe, sua boba. Este cara quer alojamento para ver os jogos da Espanha em Curitiba”. Por aquela nem eu esperava. Maria Alice menos. Se a suposição se confirmasse, Genoveva era uma grande detetive cibernética internacional. Se não se confirmasse, era neurótica incurável ou doida de pedra. De qualquer forma, Maria Alice intimou Juan Victoriano Gonzalez a mostrar a cara na Webcam. Ela queria tirar a história a limpo. Mas a sua confiança no grande amor espanhol estava abalada. E piorou quando Juan Victoriano arrumou desculpas para não mostrar a cara na Webcam.

A desconfiança de Genoveva virou certeza de fraude. Ela viu o grande amor de sua vida virar farelo. Aos 38 anos, apostava tudo naquele espanhol. E achava que foi traída pelo próprio entusiasmo. Foi aí que, de vingança, resolveu jogar pesado. Disse para Juan Victoriano: “Olha querido, se você não me disser quem é, a coisa vai complicar.

Eu sou professora, tem investigação em minha escola e a Polícia Federal está monitorando o meu computador. A Interpol está na jogada”. Jogou pesado até demais. No outro lado, seu “grande amor” abriu o jogo. Ele realmente se chamava Juan Victoriano, morava em Madri, tinha 18 anos, não tinha pai, tinha cinco tios e seu sonho era ver os jogos da Espanha na Copa do Brasil.

Mas ele só tinha dinheiro para ingressos e viagem. Queria ficar na casa de alguém. Ele pediu desculpas e implorou para ela não acionar a Interpol. Ia ser desgraça na família. Ele ia aparecer na primeira página do El País. Maria Alice era otária e de coração mole. Ela disse tudo bem, que ele podia não ser o grande amor da vida dela, mas poderia ficar em sua casa no Bom Retiro para ver os jogos da Espanha. No íntimo ela torcia para, depois da Copa, Juan Victoriano convidá-la para ir a Madri. Com cinco tios, um bem que podia ser bonito e solteiro. O mundo é tão cheio de incertezas quanto uma Copa do Mundo.