Ele viu a morte de perto no Morro do Macaco

Os amigos o chamavam de Maionese muito depois de ele se formar em Direito. Mas quando ele passou no exame de ordem e foi trabalhar no escritório do amigo de seu pai, finalmente virou Leonardo Ellmann – Dr. Leonardo para os estranhos. E se deu bem na profissão até ficar deprimido talvez por excesso de trabalho ou problemas cotidianos que se acumulam e parecem soterrar a pessoa. Coisa feia. A causa certa não sabia. Só sabia que de repente tudo parecia dar errado. Foi então que começou a pensar na morte. E não conseguia dormir à noite.

Dr. Ariosto Pontes Teixeira, o dono do escritório, nunca tinha visto aquilo. Ele aconselhou o jovem advogado a sair de circulação. Descansar. Ninguém sabe se ele fez isto para não ter um sujeito baixo astral no escritório ou se foi para ajudar o rapaz. De qualquer forma, Leonardo foi passar uma semana em Bombinhas, no litoral catarinense. Detalhe: tudo isto aconteceu em junho passado. Mês frio. Não havia nada por lá além de pescadores e um vento gelado que vinha do sul. Mas era isto que ele queria – paz, sossego e tempo para pôr as ideias em ordem.

Ele levantava de manhã, fazia caminhadas na praia, almoçava e depois voltava para a praia e ficava sentado na areia diante do mar recebendo a brisa gelada no rosto, ouvindo o barulho das ondas e tentando entender porque a vida dele parecia ter entrado num beco sem saída. Ele não chegava a nenhuma conclusão. Nem no primeiro dia, nem no segundo. No terceiro dia a sua melancolia continuava a mesma – talvez ainda pior porque a solidão jogava no lado adversário e fazia um estrago danado.

No final do terceiro dia, apareceu na pousada uma mulher jovem e bonita, silenciosa. Eram apenas os dois numa área cheia de vegetação, parecendo um pequeno bosque. Eles trocaram algumas palavras. Na manhã do quarto dia ele a encontrou depois do café da manhã. Foram fazer uma caminhada pela praia. Ela disse que seu nome era Madeleine, era divorciada, morava em São Paulo e gostava de passar alguns dias em Bombinhas no inverno porque no verão havia muitos turistas, sempre ruidosos e quase sempre mal educados. Ela queria sossego.

Leonardo disse que andava melancólico, estava desejando a morte e veio para aquela região para tentar colocar as ideias em ordem. Ele contou para ela mais do que falou nos últimos dois anos para qualquer pessoa e ouviu mais do que ouviu de qualquer outra pessoa. Ele finalmente parecia ter encontrado alguém que o entendia. Na manhã do quinto dia, Leonardo não tinha mais aonde ir e encontrou Madeleine que o convidou a subir o Morro do Macaco, de 150 metros de altura, na extremidade oriental daquele pedaço da costa.

Leonardo pegou o carro e foi com Madeleine. Eles deixaram o carro a certa altura e subiram o Morro do Macaco a pé. Não era complicado chegar lá em cima, onde a vista era encantadora. Ela o convidou para uma parte de tirar o fôlego. Nas pedras, ela o chamou, ela disse que era emocionante e chegava a dar vertigem. Ele pensou diferente: que ali escorregaria e cairia. Ela o chamou: ‘Vem Leonardo, vem aqui!‘ Madeleine sorria um sorriso estranho. Ela estendia a mão direita. Leonardo disse não para si mesmo e recuou para um lugar seguro.

Quando virou a cabeça para chamar Madeleine, não havia ninguém. A primeira coisa que ele pensou foi: ‘Será que ela caiu?‘ Ele olhou lá embaixo e não havia nada. Ele desceu do morro preocupado agora em não ser indiciado pelo sumiço da moça – ou por homicídio. Foi com essa ideia que voltou para a pousada. Ele chegou para o dono da pousada, já tentando se explicar: ‘Sabe a moça que está hospedada aqui?‘. O dono perguntou: ‘Que moça?‘ Leonardo disse: ‘Madeleine‘. O dono disse que este era o nome de uma paulistana que vinha a Bombinhas, mas há dois anos ela subiu o Morro do Macaco e caiu das pedras. E morreu. Leonardo se arrepiou. Ele fechou a conta e caiu fora. Ele me disse: ‘Eu tenho certeza de que era a morte me chamando‘. Eu respondi: ‘Pelo menos era bonita‘ Ele não gostou da piada e disse que depois do susto até a depressão desapareceu.