Aqui no Paraná o assunto ainda não é discutido seriamente, mas em São Paulo o governo estadual começa a se mexer para um problema que se avizinha: a falta de água. Cidadão que economizar 20 por cento no consumo ganha desconto de 30 por cento na fatura. Políticos não se preocupam com o cidadão comum, como eu e você – eles se preocupam apenas com a própria sobrevivência. Deles. A minha, a sua e a do planeta, pode esperar. Afinal, eles nunca são afetados por escassez de água, por desemprego, por saldo bancário vermelho, por congestionamentos, todas estas coisas que parecem feitas para todos, menos para eles.

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No caso de São Paulo, o medo é o de uma escassez de água ter influência negativa na campanha política deste ano. O estado é governado pelo PSDB. E os tucanos, pelo menos aqueles que têm juízo, não esquecem os danos que o ‘apagão‘ causou na imagem do então presidente FHC. E aqui no Paraná? Bem, nós não nos preocupamos com isso porque estamos distantes de São Paulo, não temos problemas, está tudo uma maravilha e o clima por aqui anda tão ameno e agradável que a gente se espanta quando alguém fala em calor – vivemos num oásis. Mas se abrirmos os olhos poderemos concluir que a persistência do calor aliada à falta de chuvas cria um terreno propício para a escassez de água para o consumo. Isto é óbvio.

Para ter um exemplo, eu estive no litoral há duas semanas e houve uma espécie de racionamento. O problema não foi maior porque foi por curto período e quem tinha água na caixa conseguiu se virar. De qualquer forma, faltou fornecimento de água onde estive. No caso, a culpa recaiu sobre a lei da oferta e da procura, esta maldita. O número de veranistas foi grande e pressionou o consumo, que levou à escassez. Mas eu presumo que, assim como ocorre em São Paulo, a ameaça de falta de água se deve a dois fatores: o forte calor do verão, que eleva o consumo. Até minha cachorra está bebendo duas vezes mais – e urinando duas vezes mais. E, na outra ponta, a ausência de chuvas constantes para repor o nível dos reservatórios. Eu não sou especialista, mas me parece meio óbvio que a coisa é esta.

Ontem de manhã, o calor era tão grande que a cachorra, que adora passeios matinais no parque, saiu na rua, urinou, foi até um terreno baldio e defecou. Agitou as patas traseiras na terra, como a dizer que estava tudo certo, deu meia volta e me arrastou para o apartamento. Levei-a, mas fui dar uma volta no parque. O comentário das pessoas que encontrei era o mesmo: calor. Nunca na história de Curitiba houve um calor como este. Parecia até o Lula discursando. Um senhor, que sempre encontro com o seu velho Schnauzer, tocou num assunto chave: nós estamos sofrendo apenas os primeiros efeitos de um processo letal de aquecimento do planeta. O processo tende a ficar ainda pior, porque em palavras fáceis de serem compreendidas, criamos um verdadeiro forno que começa a se aquecer e ainda por cima estamos jogando gravetos secos no fogo. E o cheiro de carne assada nem começou a aparecer. Mas se continuar assim vai aparecer.  

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Ou seja, desmatamento, automóveis que poluem mais que fábricas, poluição de todos os gêneros, enfim, aquilo que todo mundo sabe. É necessário um esforço conjunto para dar um basta neste modelo e tentar reverter os estragos que foram feitos. Isto é mais que óbvio. Sem contar que estamos esgotando os recursos naturais. Este senhor que encontrei no parque São Lourenço fez uma cara de dor e disse: ‘Eu fico imaginando como será a vida de meus netinhos‘. Eu não disse nada, mas fui invadido por uma estranha sensação de que se a irresponsabilidade com o planeta continuar assim, em cinquenta anos – na melhor das hipóteses – a humanidade estará entrando num processo de extinção. A salvação será o planeta reagir. Mas se ele reagir vai sobrar para todo mundo. Enquanto isso, vamos aproveitar e tomar água com muito cuidado, saboreando-a, ela é muito gostosa, principalmente geladinha. Vamos fazer como os enólogos fazem com os vinhos das melhores safras. Este líquido tão precioso, embora em grande quantidade no subsolo, certamente vai ser elevado à ,categoria de ouro do futuro. Sorte nossa que ainda tem água por aí.