O estádio João Loprete Frega não existe mais e tampouco o time do Clube Atlético Primavera, cuja última partida prevista para o dia 20 de julho de 1969 contra o Grêmio de Maringá nem foi realizada. Se o Primavera esmaece no tempo, as histórias de seu folclórico e antológico presidente, o comendador José Pedrosa de Morais, ainda persiste nos arredores do Bar Primavera, na Rua Mateus Leme, no começo do São Lourenço. As histórias são contadas pelos mais velhos aos mais jovens, para que não se percam no tempo. E são conhecidas por muita gente. No entanto, até hoje há uma dúvida se as coisas que o comendador falava eram sérias ou se ele sabia que ia se tornar mais um destes personagens folclóricos que gravitam ao redor do futebol.

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Pedrosinho, como era chamado pelos íntimos, foi um impetuoso atacante do Primavera nos anos 50, quando o time disputava a suburbana. Quando pendurou as chuteiras, Pedrosinho virou duas coisas: empresário do ramo de tapetes e dirigente de time de futebol. No primeiro caso, até hoje as pessoas podem ver em algum canto da cidade uma Loja de Tapetes Pedroso. No segundo caso, Pedrosinho sonhou alto: colocar o Primavera entre os grandes clubes do Paraná. E foi aí na primeira metade dos anos 60 que nasceu a lenda – ou o folclore – do Pedrosinho ou comendador Pedroso.

A lenda começou com o famoso túnel aéreo, truque armado por Pedrosinho para o estádio João Loprete Frega ser aceito pela Federação Paranaense de Futebol, que exigia vestiários com túnel subterrâneo, praticamente impossível na região. As redondezas do Rio Belém ainda são cheias de pequenos veios subterrâneos de água. Não havia como fazer o túnel para ligar os vestiários dos dois times e do juiz ao campo de futebol. A solução foi fazer um elevado de madeira, parecendo uma ponte precária, ao qual Pedrosinho deu o pomposo nome de “primeiro túnel aéreo do mundo”’. Que foi aceito pela federação porque além de atender as normas da CBD, era uma inovação.

Se Pedrosinho era criativo fora de campo, em campo, o seu habitat natural, já que fora jogador, ele tentou inovar taticamente. A mais famosa de suas inovações foi a famosa tática T1, T2 e T3. Na realidade, os jogadores fingiam que entendiam, o técnico fingia que aplicava, a torcida fingia perceber que estava vendo, mas ninguém sabia o que era aquilo. Dia destes peguei um Mateus Leme com um senhor de uns 70 anos e ele disse que jogou no Primavera. Eu perguntei sobre a tática e ele disse que ainda estava tentando entender o que Pedrosinho queria dizer com aquilo. Estava quase chegando lá, mas ainda tinha dúvidas. Há algum tempo o lateral-direito Carlito me disse que talvez a tática fosse a adoção de três zagueiros na área, com um mais avançado.

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No entanto, outro ex-jogador do Primavera me disse que seria uma espécie do atual três volantes. Por isso, ainda não há unanimidade sobre o assunto. De qualquer forma, era um sistema avançado para a época. Assim como queria o time robusto na defesa, Pedrosinho o queria forte no ataque. Não era um Zagallo da vida, que apostava na retranca. Em 1969 a situação financeira do clube não era boa e ele só via uma solução: atacar e atacar, ganhar e ganhar. E mandou o time para frente com uma recomendação tática: “Prestem atenção. Vocês vão atacar em leque”. O time começou a atacar em leque e começou a ganhar.

Dia 2 de fevereiro meteu 3 a 1 no Seleto, dia 23 meteu 2 a 0 no Paraná em Londrina. No dia 22 de março, meteu 3 a 0 no Cianorte. Aí no dia 29 de março levou de 4 a 0 do Água Verde. No Taboão. Os radialistas perguntaram aos jogadores o que aconteceu. Eles responderam furiosos: “Pedrosinho mandou a gente atacar em leque, mas não contou que o pessoal ia recuar em debandada”. Mas a tática era boa. Tanto que cinco anos mais tarde encantou o mundo na Copa da Alemanha ao ser usada pela Seleção da Holanda, que ganhou o nome de Laranja Mecânica. Aquele suco Pedrosinho sabia fazer há tempos. Era um visionário. O pessoal que não sabia utilizar os seus métodos.

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