Uma pena que não quiseram procurar a segunda garrafa do escultor João Turin, na Praça Tiradentes.  A prefeitura considerou a tarefa dispensável, visto que seu conteúdo já era conhecido, através da descrição minuciosa feita pela ata que estava na primeira garrafa.

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Antes de estragar a surpresa, a garrafa de Turin gerou um rebuliço na cidade como há muito não se via. Todo mundo curioso para saber qual a mensagem que o escultor deixara para cidade onde ele é onipresente, através das obras espalhadas em várias praças. Teve bolsa de apostas nas rodas dos botecos e da internet e quando veio a revelação foi um misto de decepção e de mais curiosidade.

Uma segunda garrafa a 30 metros de onde a outra foi encontrada? Este cara só pode estar brincando! E não seria novidade. Descendentes de Turin fizeram a ressalva que o artista, de fato, era muito brincalhão. Por via das dúvidas, a Fundação Cultural cortou o barato. Vai que aparece uma terceira garrafa…

Enquanto ficamos sem saber se a outra garrafa de Turin tem ou não o mapa do tesouro do pirata Zulmiro, lembrei cá com meus botões de uma história contada pelo meu barbeiro, Seu Raul, que antes de aposentar atendia na galeria do edifício Asa.

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Há muitos anos, quando ele morava com os pais no Campo Comprido fizeram uma grande reforma na casa. Para marcar aquele acontecimento, o pai e os filhos homens decidiram que fariam uma cápsula do tempo. Compraram cachaça de boa qualidade, dispuseram em várias garrafas de vidro, que foram fechadas com rolha e seladas com cera quente.

Os vasilhames foram colocados em um engradado de madeira, devidamente lacrado e na tampa foi descrita a data da reforma. O ‘tesouro de pinga‘ foi enterrado no chão da cozinha e de lá só deveria sair quando o casarão necessitasse de novas obras.

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Quem não é visto não é lembrado, diz a sabedoria popular. Os anos se passaram e houve boa valorização dos imóveis na região. O pai do Seu Raul recebeu uma oferta irrecusável pela casa e não pensou duas vezes para fechar negócio. A família só lembrou da cachaça adormecida no chão da cozinha quando já estava na nova morada.

 Não havia nada mais a ser feito. Afinal, o novo dono tinha direito à posse do que estava na superfície e embaixo da terra. Até hoje Seu Raul se diverte com a história porque muita gente lhe pede o mapa da localização da casa. Os mais otimistas chegam a alegar que como já se passaram muitos anos, talvez nem more mais ninguém lá. É só cavar e resgatar a caixa com a ‘branquinha envelhecida‘.

Será? A pinga foi guardada em garrafas de vidro, material que impede a sua maturação. Se a intenção fosse esta, o ideal seria usar um recipiente de carvalho. Enfim, histórias envolvendo tesouros são sempre controversas e cheias de mistérios insondáveis, especialmente as de tesouros perdidos.

* Miguel Ângelo de Andrade publica a coluna ‘Pelas ruas da cidade’ durante as férias de Edilson Pereira.