Não é preciso ser um expert em Curitiba para saber que o Parque São Lourenço é um dos principais parques da cidade, localizado no bairro homônimo, com 204 mil metros quadrados de área. O parque foi inaugurado em 1972. Sua criação, durante a primeira administração do então jovem prefeito Jayme Lerner, ocorreu após um grande problema: uma enchente do rio Belém, em 1970, que provocou o rompimento da represa do São Lourenço. Bons tempos em que, quando havia um problema, o prefeito criava uma solução urbanística. Portanto, o parque foi criado para conter as águas do rio e recuperar a área próxima ao lago, formado com a contenção das águas do rio Belém.

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É preciso dizer que raramente, mas acontece de o rio Belém transbordar e provocar o alagamento da Avenida Nilo Brandão e até do estacionamento do supermercado Mercadorama que fica na esquina oposta a um dos limites do parque – na Mateus Leme. Esta é apenas uma lembrança, que não anula, naturalmente, a solução encontrada há mais de 40 anos por Lerner. No local onde hoje se encontra o Centro de Criatividade de Curitiba e instalações correlatas, do parque São Lourenço funcionava uma fábrica de adubos e outra de cola. Nas instalações da antiga fábrica foi instalado o Centro de Criatividade, inaugurado em 14 de dezembro de 1973, nas antigas edificações da fábrica de cola e beneficiamento de couro Boutin.

Este espaço cultural foi um marco das inovações culturais vividas pela cidade naquela década de 70, quando então Curitiba passou a ganhar notoriedade nacional e internacional. O espaço tornou-se importante núcleo de discussão de arte e cultura. Abrigou os primeiros ateliês e mostras de gravuras, por onde passaram grandes artistas e nomes reconhecidos no cenário nacional. Também no local funciona o Ateliê de Escultura. Mais tarde foram instalados o Teatro Cleon Jacques e a Casa Erbo Stenzel, que pertenceu ao grande escultor e que abriga peças suas. A casa de madeira funciona como um pequeno museu, sendo ela própria uma peça que mostra como vivia um artista, ainda que de renome, na Curitiba antiga.

Pois bem, nas três gestões municipais anteriores a do prefeito Gustavo Fruet, todo este patrimônio cultural passou por abominável sucateamento. O ateliê de gravura foi desmontado e o que restou foi levado para o Solar do Barão. Aumentou a pressão para os escultores desocuparem o ateliê que ocupam, embora ainda esteja por lá. E hoje, quem passar pelo São Lourenço, vai perceber que a Casa Erbo Stenzel está fechada – há anos. O cupim come silenciosamente a casa e o aspecto do parque não é de abandono, porque a natureza o embeleza e disfarça a falta de cuidados. Nos últimos anos, dezenas de árvores foram arrancadas e novas não foram plantadas. O mais paradoxal em tudo isso é que o parque começou a ser sucateado justamente quando a região começou a ter um adensamento populacional e seus moradores precisavam de um parque bem cuidado – como era antes, há muitos anos.

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A única inovação introduzida no parque nos últimos 20 anos foi um conjunto de equipamentos para exercícios ao ar livre. Não chega a ser uma coisa inútil, mas está longe, muito longe, das soluções criativas introduzidas por Lerner quando o parque foi criado. Seria bom para todo mundo, inclusive para quem tiver a ideia, de devolver ao São Lourenço a exuberância e importância que ele teve. Ele merece. E os moradores do bairro e dos bairros próximos também. Até porque eles pagam impostos para serem beneficiários por boas soluções públicas. Coisa que algumas gestões passadas tiveram dificuldade de entender. Mas que a atual e as próximas podem tranquilamente compreender e corrigir os desmandos feitos. E, neste dia, talvez a Casa de Erbo Stenzel abra novamente para o público contemplar as peças do escultor e um exemplar de residência comum numa Curitiba cada vez mais rara.